Estranhem ou não, acompanho política desde os dez anos de idade, se é que isso é plausível. Filho de um progressista inconformado e sobrinho de um preso (e MUITO torturado) político expulso do Brasil, não tinha outra saída. Não entendia direito, mas folheava o Pasquim em 1978. dois anos depois, aí sim eu já compreendia quase todas as (justas) piadas a respeito do Presidente Figueiredo, a começar por sua triunfal pérola de posse do cargo: "Anistia ampla, geral e irrestrita; quem for contra, eu prendo e arrebento!". Que nível.
Conta-se nos dedos de uma única mão os políticos de direita que realmente trabalharam a favor do Brasil e dos brasileiros. Itamar Franco, que faleceu horas atrás, foi um deles. Sou testemunha.
Pegou a maior furada da história da república: o "legado" do (sic) "ex-comungado" Collor. Situação de emergência e risco total. Meteu a cara, arregaçou as mangas e seguiu em frente. Perto dos sessenta anos, poderia ter dado o fora. Mostrou vitalidade de menino e o Brasil, outrora um avião desgovernado e em queda livre, aterrisou inacreditavelmente sem maiores vítimas. Tudo bem, isso custaria oito anos de FHC com tudo o que de cômico e trágico isso significa. Porém, se hoje o Brasil é um pouco melhor do que o de anos idos, Itamar é cotista da empresa.
Quando a crise política cercou seu secretário da Casa Civil, Henrique Hargreaves, Itamar foi impecável e elegante como a cautela mineira do quase-Rio que é Juiz de Fora: o secretário foi afastado, investigado da cabeça aos pés, absolvido e voltou para seu cargo. Eram outros tempos.
Poderia lembrar aqui causos engraçadíssimos do Presidente Itamar, como aquela história da modelo Lilian, o clone de Fafá de Belém, ou seus arranca-rabos com FHC (sempre ele) e até mesmo Lula. Coisas de quem tem uma vida pública. E suas filhas lindas? A bela Tenente June (ou Júnia)? Há vários e vários Itamares, mas o maior, o supremo deles foi o homem que recebeu a república em extrema-unção e a recobrou sabe-se-lá-como. Eu era um dos coordenadores do centro acadêmico da faculdade onde me formei, na minha amada UERJ, de forma que vi tudo aquilo muito de pertinho.
Se a direita brasileira tivesse outros homens com o espectro de Itamar Franco, o Brasil de hoje seria muito diferente. Ele não teria esperado até 2002 para entrar no século XX; lucraria um meio-século de tempo. As ideias podiam ser diferentes, mas o objetivo era o bem do Brasil e não o próprio feudo, prioridade de tantos outros.
Se houver outra vida, Itamar acaba de ser ovacionado no lugar onde chegou. Eu não creio nesta outra vida, mas dele não tenho a menor dúvida.
Um abraço e obrigado por tudo.
Paulo-Roberto Andel