Acabou a noite. Os últimos boêmios começam a se recolher da Lapa, deixando para trás os amores que deram certo ou errado.
Os bêbados tristes percebem o ápice da melancolia. Chegou a hora.
As últimas travestis tomam o rumo de suas casas escondidas, que quase ninguém conhece.
O domingo se mostra em tímidos raios de sol.
Marina, prestes a deixar o trabalho e fazer uma longa jornada.
Eu dormi muito mal, mas não faz diferença. Vai custar alguns anos de vida, o que não chega a ser um desastre. Eu sempre durmo mslz
O silêncio é uma pátria.
Quase cochilo em cima de meu braço esquerdo, sem sucesso, felizmente.
Num breve sonho proibido, soquei - de verdade - uma pilha de 100 CDs na cabeceira da cama , que se espatifaram no chão. Ainda preciso resgatar algum sobrevivente debaixo da cama.
É domingo. É manhãzinha. Todo amor dorme.
Tenho fome. O Pampeiro está longe, longe.
Na verdade estou cansado. Bem cansado. Mesmo sem ter saído de casa, porque o stress e a depressão cansam demais. Ok, eu poderia tomar um banho, descer e fazer uma caminhada aprazível, mas tudo é longe e caro de corpo e alma.
Poderia dar uma bela volta na Lagoa ou na praia imortal de Copacabana. Quem sabe noutro dia? De toda forma, não devo me iludir: eu não vou encontrar ninguém que procuro nesses lugares.
O amor dorme.
Há muito tempo, esta seria uma hora especial: meu pai me daria dinheiro e diria "Vá comprar o café e o jornal". Pão, leite, queijo, presunto, pão de queijo, O Dia, O Globo, Jornal do Brasil, Jornal dos Shorts, Estadão e Folha. Tenho saudades disso, irreparáveis. Durou uns oito anos, mas valeu por cinquenta.
Às vezes escrevo em jornais. Na verdade, escrevo desde 1993 por razões profissionais, mas até hoje me perguntam como faço isso se não sou jornalista formado. Deve ser porque o texto é bom.
Ao longe, bem longe, late um cachorro. Um ônibus corta o silêncio, embarcado por vários lapeiros decretando o fim da night à luz do dia.
O meu Fluminense vai jogar no Maracanã, mas hoje não vou. Vai gente demais, e cada vez mais os lugares cheios me repelem. Não era assim antes, mas mudou. O mundo muda. De toda forma, tenho feito coisas relevantes sobre o Fluminense há 12 anos, reconhecidas por milhares de outros torcedores, com exceção de meia-dúzia de idiotas do clube. Odracir.
O mundo é outro. Todos querem festa, eu só preciso descansar em paz.
Todo amor dorme. Só. Só.
@p.r.andel
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