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Friday, March 28, 2025

Money above all

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Thursday, March 27, 2025

Light: padrão milícia

LIGHT: PADRÃO MILÍCIA 

Que o serviço da Light é uma OSTA no RJ, todo mundo sabe. Coitada da empresa bilionária, tão sofrida... Estou no trabalho, cheio de dor na coluna, quando recebo mensagem do excelente funcionário do meu prédio pelo Whatsapp: "Ó, o rapaz da Light mandou avisar que a luz pode ser cortada a qualquer momento". Isso depois da empresa encher você de mensagens no WhatsApp e no e-mail 10 minutos após o vencimento.

Não bastasse o constrangimento ilegal previsto no CDC, regularmente a Light intimida seus clientes mesmo quando as contas JÁ ESTÃO PAGAS, porque ela se vale de um prazo absurdo de até 05 dias para conferir um pagamento via PIX, que é INSTANTÂNEO. Em nome disso, repetem procedimentos típicos da milícia para constranger seus clientes. Simplesmente mandam um capanga ir aos endereços constranger as pessoas e sequer conferem pagamentos instantâneos, sem contar a mudança das datas de vencimento das contas. 

E se você tenta simplesmente COMUNICAR UM PAGAMENTO FEITO, a resposta digital é "aguarde até cinco dias". No Whatsapp, a pomba da assistente virtual exige o seu CEP para prosseguir; quando você digita, a cara de pau te diz que está errado, mesmo você tendo decorado o número porque reside há 25 anos lá.

O assistente virtual serve para baixar segunda via e só. O resto volta e meia trava. 

Se você quiser ser atendido pessoalmente em pleno 2025, precisa se deslocar a uma agência cheia de gente (porque o número de clientes lesados é muito maior do que o dos atendentes, que também se estressam naquele INFERNO). 

LIXO DE EMPRESA. VERGONHOSA. 

E pensar que, quando era criança, eu também sonhava em trabalhar nessa porcaria..

Que ERDA depender do capitalismo sem concorrência. Que ERDA é o atendimento da Light, que por receber em sua maioria pessoas do povo feito eu, nos trata como lixo sem chance de reciclagem.

@pauloandel

Monday, March 24, 2025

Rô-Rô, pra fechar o verão

Como os tempos voam a 1.000 km por hora, a gente mal falou dos fogos do réveillon e já estamos a caminho de abril. Agora somos outono, de duas com as folhas no chão e certa chuva pontual. Note que em fevereiro não havia caído uma gota d'água. O calorão foi barra pesada, mas passou. O Carnaval dominou o mundo e se mandou. É, o verão acabou. Logo, logo, ele volta. 

O meu verão ia acabar no primeiro Fla x Flu da decisão do campeonato, uma quarta-feira. O Rio teve uma chuva maluca, que ignorou vários bairros mas castigou outros. No Centro o caldo estourou: várias ruas viraram riachos, árvores e postes caíram e, se eu mesmo não pusesse a vida em risco, atravessando uns 30 metros com água no joelho, não veria o Fla x Flu no conforto da TV. Deu Fla, ainda tinha jogo, esfriei a cabeça. Então percebi que ainda tinha verão até domingo, com o segundo jogo da final e, antes, a despedida dos blocos no Centro.

Chegou a quinta-feira e tirei onda. Vi um dos grandes shows da minha vida. Ângela Rô-Rô, símbolo do Rio, aos 75 anos botou pra sacudir o Teatro do BNDES lotado de fãs, bem no coração da cidade. Não bastasse ser uma das maiores cantoras do nosso tempo, Ângela é uma garantia de risos, danada para contar histórias e causos hilariantes entre as canções - que ela tem aos montes, mesmo quando se trata de ex-amores. Uma tremenda companhia para se conversar por horas. 

Enquanto faz piada com a própria idade, mas espantada com as cantadas que recebe “das novinha”, ela assoa o nariz, ajeita a roupa mil vezes e dispara clássicos eternizados da MPB como “Simples carinho”, “Só nos resta viver” e, claro, sempre fechando a apresentação, “Amor, meu grande amor”. 

No meio do caminho, interpretações vigorosas do cancioneiro internacional como “Night and day” e “Ne me quittes pas”. Ao lado de R2, seu inseparável maestro Ricardo Mac Cord, pianista cristalino e parceiro de décadas. Enfim, um espetáculo para ninguém botar defeito e de graça: o teatro do BNDES tem uma programação semanal às quintas e sextas, vale conferir. Artigo Barnabé virá em breve. 

Garota carioca, suingue bluesy bom, botando rock nas baladas, a maravilhosa Angela Rô Rô não tem herdeiros musicais. Ninguém faz essa mistura tão bem dosada de baladas, standarts e underground como ela ainda faz. Aliás, tínhamos uma, que infelizmente perdemos precocemente no caminho: Cássia Eller. Vamos usar e abusar de Ângela, vamos ouvir tudo que Ângela tem pra cantar pois ainda há muito tempo, mas a vida é hoje. 

No fim de semana seguinte ao show, os blocos deram adeus e o Flu perdeu o título. Paciência. Foi aí que realmente entendi que o verão tinha assentado praça na quinta mesmo, com a plateia inteira do Teatro do BNDES cantando “Amor, meu grande amor” de pé. As águas de março já estão partindo, mas a tricolor Rô-Rô volta em maio no Teatro Rival. Vale a pena ver de novo.

Acordado

Queria uma lata de leite condensado agora, nova, com bastante leite condensado dentro.

Vou dormir de novo e comprar mais tarde.

É um pedaço de felicidade possível, real.

A felicidade acessível. 

Um pouco mais de sono e a busca por uma semana de paz, mínima que seja.

II

E por que estou acordado agora? Por medo. Simples medo do que virá daqui para frente. Eu não preciso sair cedo para a loja, não tenho mais que madrugar no ônibus para chegar à faculdade, nem bater ponto no escritório. Não deveria ter medo, mas tenho. Pensando bem, devo sim. 

Então são vinte para as cinco, eu escrevo um pouco, espio a ausência de recados - com ou sem medo todos estão dormindo - e então me toco de que sonhei com um dos meus passatempos prediletos do passado: viajar de ônibus à noite. Lembro de estar chegando em alguma rodoviária próxima do Rio, coberta, talvez a duas ou três horas daqui porque fiz contas pequenas de chegar ao Rio à meia noite. Me lembro brevemente do desembarque e que alguém me acompanhava.

Quando acordar de novo, pesquisarei preços para o irmão do Piccoli, irei para a loja e sonharei com a vitória na Lotofácil, que literalmente pode salvar a minha vida e prolongá-la - afinal, não adianta parecer ter 40 e poucos anos se na realidade tenho quase 60. É bom apenas por uma vaidade oca e só. Eu sei o peso que carrego literalmente, em quilos e tristezas.

III

Seria bom demais ter uma lata de leite condensado agora, mas é impossível. O que resta é um trago de Coca-Cola. 

IV 

Bom mesmo é ter paz. Ter saúde, uma casa, uma boa família. Ter amigos, poucos mas verdadeiros. Bem poucos. Poder escrever e publicar. Ver o mar, caminhar por ruas incríveis. Ficar deitadão sem medo das contas. Escolher a paz.

V

Todos os dias, de maneira infalível, eu penso em pessoas importantes da minha que se foram, nem sempre para a morte mas também para a indiferença. E todos os dias eu penso em como este mundo humano é egoísta, escroto, opressor e praticamente escravagista. Também penso em coisas legais e consigo produzir ainda coisas em alto nível, sem precisar da ilusão boboca do mundo belo e perfeito porque ele está longe disso - basta não ser um alienado e perceber que não há uma única rua sem tristeza nesta cidade.

Monday, March 17, 2025

O Fla x Flu do trem da Central

Segunda-feira, cinco da manhã. Começa a semana, bem cedinho para os trabalhadores do Rio. A maioria proletária se desloca de trem para a gare da Central do Brasil. São dezenas de milhares de trabalhadores, muitos flamenguistas e tricolores também. É a continuação do Fla x Flu de ontem, quando o Flamengo foi campeão no empate sem gols. Os flamenguistas viveram a felicidade do título, que lhes servirá de combustível nestes dias de luta. Os tricolores, coitados, amargaram o vice e seguirão na labuta sem a efêmera, mas deliciosa, alegria da vitória. Talvez a escolha clubística seja a única coisa que separa esses trabalhadores; de resto, eles pertencem a um grupo homogêneo e sofrido, que disputa um prato de comida como se fosse uma bola, que muitas vezes vive humilhado pela opressão criminosa do tráfico e da milícia. Homens, mulheres e crianças que saem de madrugada e não têm garantia de que conseguirão voltar para casa, nem que poderão comer algo além de biscoitos baratos no decorrer do dia. A maioria destes torcedores não conseguiu ir ao Maracanã: viveram o Fla x Flu final em biroscas, na rua, em radinhos de pilha ou pelo celular. São excluídos do estádio pela opressão financeira que vivem noite e dia. Agora, depois desta viagem longínqua para centenas de milhares de torcedores, que logo chegará à Central, começa o Fla x Flu da vida, a luta, o corre, a batalha para se chegar vivo até o próximo final de semana, com a vida dignamente cumprida. O Fla x Flu não termina nunca, é o jogo que não acaba, é também o único combustível de alegria para muita e muita gente que tem no jogo de bola a sua única esmolinha de alegria. O Fla x Flu tenta driblar a natureza e ser feliz num mundo duro, pesado e desumanizado, mas a vida continua. Ainda estamos aqui e todos querem apenas viver com dignidade. Daqui a pouquinho, quando o trem sentar praça na Central do Brasil, o Fla x Flu continua. Com ou sem luto, a vida continua em riste. Muito mais siameses do que adversários, tricolores e rubro-negros seguem acreditando, tentando, mirando a efêmera felicidade. 

@pauloandel

Saturday, March 15, 2025

Os pernósticos

Eles se acham o máximo. São o tipo de gente que ri das pessoas humildes, que não praticam a farsa da norma culta. Acreditam piamente que são seres superiores por causa disso. Vivem a cafonice pueril do Português perfeito. Não, eu não quero abrir uma guerrilha léxica, mas apenas dizer que a mensagem e o conteúdo são mais importantes do que a forma em si, assim como o presente é mais importante do que sua embalagem. O Brasil é um país de pessoas humildes e sofridas, oprimidas. Muitas passam longe da discutível norma culta. Merecem ser desqualificados por isso? Claro que não. Temos a linguagem popular brilhando na cultura brasileira em muitas manifestações do Norte-Nordeste. Temos a fala das ruas, urbana, contemporânea. Sim, vamos estudar a língua, vamos aprimorar as falas e escritos, mas que fique bem claro: nenhum pernóstico engomadinho com sua gramática de decoreba é capaz de oferecer boas mensagens com paixão, fúria, tesão e sede de liberdade. O talento do texto se mede por fatores muito além do simples domínio gramatical. 

@p.r.andel

Money, it's a shit

Parei pra ler uma besteira na internet e um grupo de pessoas discutia um post de possível golpe do empréstimo e tal. Isso tem toda hora. Mas eu acho graça como o dinheiro muda tudo. E começam as desgraças: amigo que é amigo não pede dinheiro, dinheiro estraga amizade, eu não empresto nem pra quem eu confio. Repararam a hipocrisia? Confiam em tudo, menos quando há dinheiro. Que merda de amizade é essa? Eu já emprestei dinheiro paca quando tinha, raramente me dei mal. Infelizmente perdi uma ou duas amizades numa história mal contada sobre dinheiro, que a gente só percebe a besteira aos 27 anos quando já tem 50 e não mudou o mundo. Um dos poucos amigos meus de verdade me deu dinheiro pacarai e eu também salvei a vida dele umas duas vezes, mas infelizmente ele morreu e não volta. Teve gente que se dizia minha amiga demais e, na hora em que eu mais precisei, me deu um chute na bunda. A questão é que o mundo dá voltas e isso é um perigo. Já dei dinheiro, já torrei dinheiro, já fiz coisas maravilhosas com pouco ou nenhum dinheiro. Nunca me interessei por isso, nunca medi nada nem ninguém pelo dinheiro. Minhas pequenas felicidades foram em noites no campo, silenciosas, com uma barraca e alguma comida. Ou no Maracanã vazio, deserto, numa noite de jogo com pequeno público. Nas incontáveis sessões de cinema onde estive sozinho ou com no máximo três pessoas. Sentado na areia olhando o infinito do Atlântico Sul e sonhando com uma garota que jamais me beijaria. Foda-se o dinheiro: ele só serve para sobreviver. Enquanto isso, esses idiotas economizam dez mil reais no banco e se acham ricos, mas quando alguém está doente ou à beira da morte, fazem cara de paisagem e depois escrevem lindos posts de merda. Eu não tenho nenhum amigo em que eu não confie por dinheiro; se não confiar, não serve para ser meu amigo. E sinceramente, a melhor coisa que me aconteceu na vida foi me livrar para sempre de gente que não confia em mim por dinheiro, porque eu sou muito mais do que um bolo de notas de papel, porque minha cabeça vai muito além do que um bolo de dinheiro, um carro ou uma casa. Eu não trocaria os milhares de sentimentos e emoções que despertei nas pessoas por dinheiro. A minha amizade não tem preço. Cada um sabe de si e eu é que sei de mim: todo dinheirista é, no fundo, um limitado diante da vida. Pode ter posses, bens, a porra do dinheiro em espécie mas não tem alma, não sente a vibração do poema, não percebe a cena por trás da cena. Todo dinheirista é limitado. MONEY, IT'S A SHIT. 

@p.r.andel

Tuesday, March 11, 2025

Palavras que eu gosto

Pela grafia, sonoridade ou mesmo simpatia.

cereja

laranja

cebola

triagem

fábula 

hambúrguer 

bife

atlântico 

sêmola 

hiato

bola

litro

caixa

bangu

hiper

pequenininho 

camisola

alameda

almôndega

salada

creme 



Friday, March 07, 2025

Festa não!

Nunca gostei de festas. Não tenho nada contra elas, nem contra quem gosta, apenas eu nunca me senti bem. A coisa de estar obrigatoriamente feliz me incomoda. Sempre gostei de silêncios e momentos reservados. A maior saudade que trago do escotismo é das noites no campo, num enorme silêncio às vezes interrompido pela natureza - todos dormiam enquanto eu era o lobo insone. Engraçado que fui criado no Maracanã com 120 mil pessoas, mas ali eu não via como festa e sim como missão. Era a multidão, os corações em luta e eu com meus pequenos olhos e ouvidos atentos a tudo. Parecia uma festa, mas não era. Na faculdade não tive alternativas, tinha festa toda hora, as garotas estavam sempre lá, os colegas, mas eu meio que fazia missão protocolar. Festa para mim era ter um dia bom e fazer algo legal, fazer um bom lanche, dar uma volta, ver o mar, o verde. Ou mesmo ficar escutando boa música, lendo o encarte, mergulhando na obra. Depois de velho, larguei de vez e nunca mais fui. Meus pouquíssimos amigos devem compreender porque não vou. Eu não quero botar roupas para agradar, eu não quero bajular ninguém nem ser bajulado, eu só quero andar por aí com meu par humilde de chinelos pretos e meu bermudão. Eu não quero fingir que estou feliz para enganar alguém, eu não quero me enganar e honestamente acho ridículo quando alguém finge estar feliz mas é óbvio que não engana ninguém. Onde foi que aprendemos a fingir felicidade apenas para mostrar aos outros? Quero que todos se divirtam muito em festas, eu só prefiro curtir a minha infelicidade reservadamente, em goles, em pequenos silêncios, sem barulhos, com quase ninguém. É da natureza dos lobos insones, se é que alguém me entende. 

@p.r.andel

Goodbye Summer

são poucos dias para o fim do verão 

e nosso alvoroço cessa

ficam para trás as areias escaldantes

os amores de ocasião 

a paisagem mais colorida

e abraçamos certa sobriedade 

que o tempo sempre nos impõe 


depois vamos olhar para trás 

sempre contando cada verão 

como se fossem aniversários 

efemérides inesquecíveis e leves

cheios de lembranças e vozes


eu vivi muitas vezes o verão 

mesmo sendo um ser glacial

e lembro de momentos límpidos

acreditem: posso até ter sido feliz


as cores, as luzes, o mar indo

e vindo gelado e tão brilhante 

a manhãzinha ainda nascendo 

ou o fim de tarde no posto seis


já contei muitos verões e isso é bom

ainda carrego algumas esperanças 

é que não é ainda o fim do caminho:

enquanto isso, vou escavar alegrias


@p.r.andel 


(em memória de Mauro Santa Cecília, poeta absoluto que faz uma falta enorme)

Tuesday, March 04, 2025

Affonso Romano de Sant'Anna

QUE PAÍS É ESTE? [1980] 

Parte I


Uma coisa é um país,

outra um ajuntamento.


Uma coisa é um país,

outra um regimento.


Uma coisa é um país,

outra o confinamento.


Mas já soube datas, guerras, estátuas

usei caderno “Avante”

— e desfilei de tênis para o ditador.

Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”

e éramos maiores em tudo

— discursando rios e pretensão.


Uma coisa é um país,

outra um fingimento.


Uma coisa é um país,

outra um monumento.


Uma coisa é um país,

outra o aviltamento.


Deveria derribar aflitos mapas sobre a praça

em busca da especiosa raiz? ou deveria

parar de ler jornais

e ler anais

como anal

animal

hiena patética

na merda nacional?

Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do Tombo

comendo o que as traças descomem

procurando

o Quinto Império, o primeiro portulano, 

a viciosa visão do paraíso


que nos impeliu a errar aqui?


Subo, de joelhos, as escadas dos arquivos

nacionais, como qualquer santo barroco

a rebuscar

no mofo dos papiros, no bolor

das pias batismais, no bodum das vestes reais

a ver o que se salvou com o tempo

e ao mesmo tempo

– nos trai

Monday, March 03, 2025

A Vila

Sempre gostei de ver os desfiles, desde garoto. Rolando de rir com o Milton Cunha - ele é muito maneiro e uma figuraça. Fidelidade pra mim, só no futebol: já torci por várias escolas, inclusive ao mesmo tempo. Agora, se tem uma que é tipo "paixão antiga" (aka Tim Maia), é a Vila. Tudo começou em 1988, quando entrei pra UERJ e fiquei íntimo de Vila Isabel - a escola tinha acabado de ser campeã. Pô, claro, tem a Mangueira em frente ao prédio, mas todo mundo é Mangueira, fica legal ter uma alternativa. E depois passei anos mágicos por ali, que já estão longe mas se tornaram inesquecíveis. Agora mesmo pensei: onde eu estava há 30 anos? Provavelmente no paraíso, mas não sabia o percurso do trem fantasma que teria de encarar. Aquela coisa de UERJ, Vila e Maracanã é muito forte para mim. Um dia escrevo sobre isso. Ah, meu Deus: a gente almoçava na Parmê com os tickets do estágio e quase sempre estava no Capelinha, 1993, 1994. Onde isso tudo foi parar? Nas lembranças da madrugada de Carnaval muitos, muitos anos depois, sem um único personagem real por perto. Um tempo tão forte que João Gilberto tocava no rádio cantando Noel Rosa: "A Vila não quer abafar ninguém/só quer mostrar que faz samba também."