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Tuesday, May 02, 2023

Maio

Meia noite na cidade, a terra de tantos bons homens anônimos e desaparecidos, de tantos amores perdidos, de tantas lágrimas derramadas sem que ninguém percebesse. 

Então começa maio de vez. 

Daqui a poucas horas muitos estarão de pé para lutar pela sobrevivência, que não é fácil em meio a tanta miséria, violência e desprezo, mas ainda procuramos fagulhas de esperança.

[Essa terça-feira com cara de segunda sonolenta

Enquanto há artes e amores, podemos crer na luz no fim do túnel. 

Ao mesmo tempo, precisamos lutar contra as inflações: a inflação de alimentos, a inflação de egoísmos, a inflação de indiferença.

[No coração do Rio o silêncio sepulcral é uma bandeira deitada em berço esplêndido

[Pelo menos o WhatsApp espanta um pedaço da solidão, ainda que minúsculo

[Ao longe, longe demais, penso no sofrimento dos meus pais, a minha única herança

[Um carro em alta velocidade corta o silêncio da rua e ninguém sabe dizer se é apenas por pressa

Maio tem desejo, amor e fome. Tem injustiça e melancolia supremas. Maio tem vida e é tudo verdade, o que nem sempre é bom. 

Daqui a quinze horas ou dezessete, jovens trabalhadores vão almoçar pacotes de biscoitos baratos, nas imediações da Praça Tiradentes e da Central do Brasil. Vão se apertar nos trens lotados até chegarem às suas casas.

Vai ter um grande jogo no Maracanã. 

Vai ter vida e morte, alegria e tristeza. Vai ter vida. É uma terça com cara de segunda. 

Em algum lugar do Rio, um garotinho conta os trocados da féria de engraxate vai sonhar com o futuro: um hambúrguer bem grande, quem sabe um sorvete. 

A moça passa chorando pela calçada mas todos são ninguém nessa hora, logo nessa hora. 

A gente só precisa de um pouco de dignidade. 

Ainda estão rolando os dados. 

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