Meia noite na cidade, a terra de tantos bons homens anônimos e desaparecidos, de tantos amores perdidos, de tantas lágrimas derramadas sem que ninguém percebesse.
Então começa maio de vez.
Daqui a poucas horas muitos estarão de pé para lutar pela sobrevivência, que não é fácil em meio a tanta miséria, violência e desprezo, mas ainda procuramos fagulhas de esperança.
[Essa terça-feira com cara de segunda sonolenta
Enquanto há artes e amores, podemos crer na luz no fim do túnel.
Ao mesmo tempo, precisamos lutar contra as inflações: a inflação de alimentos, a inflação de egoísmos, a inflação de indiferença.
[No coração do Rio o silêncio sepulcral é uma bandeira deitada em berço esplêndido
[Pelo menos o WhatsApp espanta um pedaço da solidão, ainda que minúsculo
[Ao longe, longe demais, penso no sofrimento dos meus pais, a minha única herança
[Um carro em alta velocidade corta o silêncio da rua e ninguém sabe dizer se é apenas por pressa
Maio tem desejo, amor e fome. Tem injustiça e melancolia supremas. Maio tem vida e é tudo verdade, o que nem sempre é bom.
Daqui a quinze horas ou dezessete, jovens trabalhadores vão almoçar pacotes de biscoitos baratos, nas imediações da Praça Tiradentes e da Central do Brasil. Vão se apertar nos trens lotados até chegarem às suas casas.
Vai ter um grande jogo no Maracanã.
Vai ter vida e morte, alegria e tristeza. Vai ter vida. É uma terça com cara de segunda.
Em algum lugar do Rio, um garotinho conta os trocados da féria de engraxate vai sonhar com o futuro: um hambúrguer bem grande, quem sabe um sorvete.
A moça passa chorando pela calçada mas todos são ninguém nessa hora, logo nessa hora.
A gente só precisa de um pouco de dignidade.
Ainda estão rolando os dados.
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