Combinamos de almoçar na Leiteria Mineira, eu, Gustavão e Junior. Marcamos entre meio dia e meio dia e meia, por aí. Como já somos respeitáveis senhores, o trio chegou no horário estimado. Melhor assim.
A Leiteria é um dos únicos lugares em que me sinto de verdade no Rio de Janeiro. É o que se pode chamar de uma instituição carioca. Ali foi casa de ídolos meus, de gente que me abriu as portas para a vida literária, de deliciosos mistos quentes com toddy geladíssimo no café, de ficar de frente para a rua no salão principal - meu amigo Luna é titular do segundo, nos fundos - e ficar dez ou vinte minutos espiando o ir e vir da vida carioca pela entrada de vidro. Gente que não acaba mais, apesar dos tempos bicudos que vive o Centro do Rio - basta ver a Praça Tiradentes completamente sem lojas.
Sempre que posso, pelo menos uma vez por semana, tomo café ou almoço lá. É uma sensação de pertencimento que recomendo a todo mundo.
Gustavo chegou antes, Junior depois. Ambos lembravam brevemente do ambiente, mas não compareciam há muitos anos ao recinto - o que achei um barato, porque foi uma redescoberta para os dois. E eu, que vivo por lá, me senti ainda melhor porque estava com meus amigos - o que nem sempre acontece. Geralmente a companhia titular é o Luna. O Diniz e o Edgard foram outro dia, o Flavão quando estava aqui antes de ir para São Paulo. Almoçar com tempo é bom, algo que me foi subtraído por muitos anos, durante o tempo em que trabalhei em escritório. Conversar à mesa é bom, trocar ideias, abstrair. Ultimamente se conversa muito pouco: as pessoas estão ocupadas com tanta coisa inútil que não conseguem escutar o outro. Trocam o bate papo por figurinhas. Nem toda modernidade é necessariamente melhor.
Enfim, por pouco mais de uma hora, pudemos falar do Rio, do Brasil, do nosso Fluminense - e, claro do impiedoso 4 a 1 tricolor na final do Carioca 2023. Tudo se misturou agradavelmente enquanto os pratos alucinantes chegavam. Quarta-feira, a dobradinha é enlouquecedora. Noutros dias, para quem gosta, é difícil ter um bife de fígado acebolado tão bom quanto o da Leiteria Mineira. Muito difícil mesmo.
Ficamos de marcar outras vezes. Pro Junior é tranquilo: é jovem aposentado com disponibilidade e está pertinho do Centro. O Gustavão, nem tanto: ele mora em Friburgo, estava resolvendo pendências no Rio e deve ter sido a primeira vez, desde que nos conhecemos, que nos vimos em duas semanas seguidas, a do almoço e, na anterior, durante o puro êxtase do Maracanã de Fluminense 5 x 1 River Plate. Uau!
Depois da tradicional foto, dos abraços e das despedidas, me deu saudade imediata: algo que parece simples na verdade é um momento raro, que a gente nunca sabe ao certo quando se repetirá. O Junior foi para um compromisso, o Gustavão pegou um táxi para a rodoviária e eu fui para a estação do meu querido VLT. A caminho do Sebo X, me senti alimentado e experimentei muitas lembranças antigas da Leiteria, de tanta gente que se foi, de tantas frases bonitas que não se sustentaram, mas fiquei com o principal: um ótimo almoço com amigos num dos patrimônios do Rio. É bom lembrar às vezes as delícias de ser carioca.
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