Eu me perdi muitas vezes nas esquinas da cidade
Não sabia ao certo o prumo de uma nova casa
Faltou quem me servisse de guia ou guarita
Não foram poucos os mares que tragaram-me
Servi de gota no oceano, mero detalhe do plano
Calei-me no melhor momento de minha voz
Os manuscritos, atirados no fundo de uma caixa
Não guardei prosa, nem poesia, soneto que fosse
Procurei o espírito da paz e não fui recebido
As juras de meu amor foram incineradas em fel
Quando não parecia mais haver saída, motivo
Olhei para todos os lados e me veio a morte
A sorte
A boa morte
Morri quinze mil vezes, uma a cada dia
Todas em muitos momentos, negros
Renasci em mais outras quinze mil
Senti-me feito um reles punhado de Brasil
Brasil, terra vil, de aroma e azul de anil
Nunca fui tão reticente, pertinente
Nunca vi-me tão forte, sem mais morte
Nunca fui tão brasileiro
Ligeiro
Os que de mim caçoavam, emudeceram
Minha desgraça rezaram, exasperaram
Quando busquei meu próprio féretro, vivi
Longe, forte
Passageiro
Ainda não perdi a batalha
Dados de ossos repicam sobre a mesa
Escondem-se no copo de couro
Duradouro
Nunca fui tão estrangeiro
Paulo Roberto Andel 01/09/06
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