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Thursday, September 21, 2006

Do cristal quebrado

Encontrei um vaso raro de cristal, posto ao chão, quase espatifado
Houve quem lamentasse a queda do artigo por demais valioso, caro
Eu pensei em outra coisa, distante, outro jeito, outras palavras, mais
Reparei nos cacos maiores, lisos, brilhantes mas perdidos, revoltos
Cercados de menores, que emprestavam um batalhão de estranhos
Não havia mais liga, unidade, junção, formosura encantadora n'arca
Tanta beleza trucidada, jogada, descuidadamente fraturada, sem cura
O vaso tinha importância para nosso doce colírio aos olhos, caloroso
Valor vil do dinheiro ali, na cena, era de rasteira relevância, minorado
Prostrei-me ao deparar com certo final da peça, desfalecido aos tacos
Enxerguei morte de amor, o amor rasgado, desperdiçado, poído, nu
Daqueles que, tal como o belo vaso, cola alguma é tenaz de reparar.


Paulo Roberto Andel, 21/09/06

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