Então VOCÊ desce a Rio Branco, sentido dos carros, cerca de cinco da tarde, as pessoas numa correria enorme debaixo do céu gris e pequeno frio que dominam a Guanabara, todos loucos pelo primeiro bar, baile funk, pagode, ônibus ou trem qualquer quer. Gente abarrotando o Burger King da Ouvidor, Pollyanna sempre gata e com mil tarefas na agência da Caixa, duas garotas comentam sobre traição depois de um fiel dia dos namorados, guardas municipais ávidos por uma ocorrência que garanta o churrasquinho de domingo. Rapazes em roupas formais carregam notebooks e falam de informática o tempo inteiro. Um respeitável senhor põe a fumaça de seu cachimbo para correr. Logo à frente, o caos copacabanense por causa do caos no edifício Avenida Central – um jovem ruivo, lembrando o médico da antiga série ER, tenta vender alguma coisa enquanto sua potencial cliente sorri.
Dobre à direita e vem a avenida – ou rua – Almirante Barroso. Consumidoras felizes andam com presentes comprados em O Boticário, a dona da barraca de tapioca é muito sexy e sempre atende todos com fidalguia impressionante. Camelês vêm e vão de todos os lados enquanto transeuntes correm para o metrô Carioca – querem ir embora, deixar os empregos longe, espantar a solidão. Mulheres e mulheres bonitas de todos os lados, o que faz qualquer um perguntar porque perde tempo com paixões não correspondidas – mulheres lindas de todos os lados! - mulheres a granel.
Funcionários apressadísimos deixam o moderno edifício Ventura e, tal como diria Eduardo Dusek, só pensam em “sartar fora”. Do outro lado da rua, já Avenida Chile, turistas católicos ficam embasbacados com a catedral em forma de funil invertido – tiram fotos, celebram Deus e nem percebem que, a metros dali, mendigos debaixo da passarela acendem uma fogueira pois a noite de mendicância não será nada fácil. Poucos carros, menos do que o esperado. Quase na esquina o moderno prédio do IBGE, não vejo Andrea e penso em meu querido amigo Claudio Bruta Bustamente, falecido tão cedo numa bobagem – morreu dormindo, uma pena, o mundo pela frente.
Quando a Avenida Chile fenece, vem a sede da polícia. Os veteranos da corporação são facilmente identiicáveis, tanto pelas roupas quanto por certa atitude. Quase todos usam capanga – ou bigodes à la John Lord – ou óculos escuros – já não há camisas floridas mas sim pretas.
O café da Gomes Freire parece ideal para se levar a mulher amada e escutar boa música com café e outros bocados – fica quase na esquina, parece ter uma jukebox. A turma da televisão anda solta nos arredores: garotas descoladas, rapazes de cabelos grandes e barbichas. Eu, que vou do nada para lugar nenhum, almejo apenas pães franceses frescos, presunto, suco de laranja e está tudo bem.
Outono no coração da cidade, fim da sexta-feira, corações a mil ora satisfeitos, ora não, saudades e a dificuldade de se entender a vida na terra quando se é adulto. Alguma coisa desacontece no meu coração. Onde estão meus pares?
@pauloandel
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