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Friday, March 16, 2012

ISCA NO ANZOL DE ARRIGO



Onde há isca, não petisca na mira dos polícia.

Eu queria dizer.... ah, eu queria dizer?

Esperei quase trinta anos para ver a Isca ao vivo na minha terra. Eu era garoto e via aquele show meio doido, aquelas garotas bonitas com vozes trovejantes, aquelas canções que não pareciam com absolutamente nada do que eu ouvia – embora parecessem tão familiares e interessantes aos meus ouvidos -, tudo na Bandeirantes antes dessa corruptela engraçada de Band. Ser adolescente em 1981 não era muito fácil: o dinheiro curto, os shows escassos, o intercâmbio longe da descomplicação.

Então, dado que a vida é um estalar de dedos com farpa na unha do dedão, o tempo vou e fugiu. Dia desses mesmo, coisa de uns cinco anos, pela primeira vez eu pude ver Arrigo no Rio, na Caixa Cultural. Eu tenho um ídolo chamado Arrigo, o resto eu não conto por pode parecer sintoma de perigo – postiço! E vi a segunda, no Oi (agora as casas de espetáculos têm estes curiosos nomes corporativos).

Meu tempo me mastiga. Inventei de escrever dois livros sobre futebol ao mesmo tempo, em vez de viver minha vida pacata de estatístico. Isso tem acabado até com a pausa para inspirar. Deixei de lado os cadernos de cultura, talvez a única coisa que ainda preste nos diários midiáticos convencionais. Mas na terça, eu sempre leio (mesmo que atrasado) a resenha dos discos da semana (eu ainda compro discos!); foi minha redenção: escondida nas entrelinhas, a notícia do show que eu esperava há tantos anos – e que imaginei que nunca fosse ver ao vivo. Depois Carlão, nosso mensageiro aqui do trabalho – e, por conseqüência, herói – zarpou rumo ao CCBB para comprar meu ingresso. E conseguiu, fato raro em se tratando da programação da casa (geralmente esgotada com enorme velocidade). Estava escrito que eu finalmente ia ver o que queria.

Quando o show começou, voltei 30 anos no tempo e revi na memória as melhores lembranças da minha casa: era minha mãe rindo (ela gostava quando eu via aquelas “coisas diferentes” na televisão), meu pai com ar soturno que escondia a aprovação, nossa casa em Copacabana. Nada foi para o beleléu, mesmo eles não estando mais aqui: eu os carrego comigo em algum lugar dentro de mim que não sei explicar. Não tinha bateria, uma pena? Pena? Ficou ainda mais espetacular, porque tudo ficou marcado no baixo do meu xará e aquilo saltava aos olhos como se Art Blakey estivesse nas redondezas. Mais estranho ainda é eu não ter qualquer crença, mas sentir que Itamar estava na ocorrência – tudo naquele pequeno teatro fazia crer nisso: os coros suaves, o impacto das interpretações, o clima de club. Alguma Lira Paulistana aconteceu em meu coração.

De todo o maravilhoso repertório e a arrebatadora performance da Vange e da Suzana, o que me chama atenção é que ambas cantam de um jeito jovem, jovem, tão jovem como se o tempo tivesse sido congelado e tudo voltasse. Não há dúvidas de que a obra de Itamar – ainda a ser descoberta por milhões – exala juventude, mas as cantoras dão o tom impecável.

O Luiz era o pai da Tulipa nas apresentações. Faz todo o sentido, são tempos modernos – e tomara que todos os fãs dela, Tulipa, dentre os quais me incluo, tenham a curiosidade de investigar a obra fantástica que seu pai ajudou a construir.

Perdi a conta dos shows que vi em minha vida. Foram muitos. Muitos. Mas não tenho a menor dúvida: este do Isca com Arrigo foi um dos melhores que assisti em toda a minha existência. E isso pouco ou nada tem a ver com tantos anos de espera: é que foi bom demais, bom pra carvalhowski.

Tomara que algum gênio tenha gravado na mesa. Os ouvintes merecem um CD no futuro.

Obrigado por tornarem minha vida mais feliz, desde aquele 1981 até hoje, 2012, e o que vem pela frente.

Obrigado e obrigado.

Paulo-Roberto Andel

2 comments:

Suzana Salles said...

viva, Paulo Roberto!!!!! seu olhar melhora o meu...

Paulo-Roberto Andel said...

Eu que agradeço por sempre, Suzana.