TUBARÕES VOADORES AMEAÇAM COPACABANA
Agência Estado Psicodélico 15/09/1988
Orley Maggalhaenz - da sucursal
RIO - Uma das cenas mais aterrorizantes dos últimos tempos foi testemunhada ontem por moradores de Copacabana. Diversos relatos dão conta de que, por volta das onze da noite, uma esquadrilha de tubarões voadores não apenas sobrevoou a Princesinha do Mar, mas também sentou praça na cavalaria do bairro que nunca dorme.
O fenômeno tido como extraterrestre foi extremamente rápido, não passando de vinte e cinco minutos, mas suficiente para deixar a população local em pânico. No entanto, ao contrário do que se poderia imaginar, nenhum dos tubarões abocanhou ninguém, embora diversas ocorrências tenham sido registradas.
A peixaria do Posto Seis foi abalroada e teve sua vitrine quebrada, alguns peixes desapareceram. Dois toldos do bar e restaurante Transa, na esquina da rua Bolívar com a avenida Atlântica, foram rasgados. Moradores do famoso edifício Chopin, ao lado do Copacabana Palace, afirmaram que um tubarão lilás passou em voo rasante na altura do quinto andar e parecia dar uma gargalhada. E turistas do luxuoso hotel Le Meridien, na entrada do Leme, desceram imediatamente para a praia com máquinas fotográficas, mas um fenômeno desconhecido impediu os registros, conforme o depoimento da estudante portuguesa Maria Teresa Salgueiro, 20 anos, aos policiais: "Eles eram uns três ou quatro, fizeram piruetas e pareciam até sorrir. Quando preparei a máquina para fotografar e apontei para eles, uma grande nuvem de fumaça vermelha e preta nos sufocou. Caímos na areia e, quando nos levantamos, eles já tinham subido muito. Um era vermelho, o outro amarelo e os outros dois não me lembro".
O caso mais inacreditável foi contado por José Roberto, o Mussum, 25 anos, figura marcante do futebol de praia e das noites de Copacabana. Ele bebia um pacífico chope no restaurante Rondinella, na praia e esquina com Siqueira Campos quando, num súbito, viu uma grande barbatana e não teve como reagir: um tubarão roxo em poucos segundos roubou sua tulipa e evadiu-se em direção ao Atlântico Sul. Disse Mussum: "Aí mané, veio o tubarão cheio de pantominági (sic) e levou meu chope novinho. Safado! Sai dessa maresia, era só o que me faltava.". Também foi deixada uma enorme cartolina, com mais de três metros de comprimento onde se lia "Free Solana Star", nas imediações da trave do Juventus, na areia, em frente à rua Figueiredo Magalhães.
No entanto, a passagem da esquadrilha de tubarões não causou exclusivamente medo. Na boate Bolero, famoso reduto da boemia copacabanense à beira-mar, Lady K, 23 anos, requisitada garota de programa, quase suspirou pela inusitada esquadrilha marítima: "Um deles era amarelo, tão bonito, parecia que estava com a camisa da Seleção. Passou aqui pertinho mas não entrou. Eu agarrava ele!". Para o jornaleiro local Mahmoud Avahskninkar, 47 anos, há suspeita de acerto de contas: "Cê acha que o verão da lata foi de graça? Os caras mandaram recado que querem a compensação do prejuízo". Houve quem nem ligasse, tal como a senhora Wanda Wildner, 75 anos bem vividos, segundo a própria: "Meu filho, esse bairro é um zoológico. Tem urubu, pavão, veado, piranha, pomba rola, jararaca, tudo na rua, e eu vou me preocupar com tubarão? Me chama quando o elefante e a girafa estiverem no botequim da Prado Júnior, ou na pracinha do Bairro Peixoto". Por fim, o veterano DJ Monsieur Limá, ícone do bairro, vaticinou: "São tubarões malandros, vieram onde tem muita gatinha".
As ocorrências foram registradas na 12a DP. Na ausência do delegado titular, o experiente detetive Cler Bonelli garantiu a devida averiguação do insólito atentado extra-marinho em Copacabana.
@pauloandel
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