Não há ninguém no Grant's a essa hora. Nem Grant's há. Não se come mais grandes pratos baratos de comida à noite.
O mesmo vale para o Five Spot. Nem pensar em esperar por Thelonious Monk batendo o pé no chão para marcar grandes temas de jazz.
Agora é tarde.
JAZZ IS DEAD.
Os velhos e bons beatniks que iam e vinham pelos bares à noite estão todos mortos, ou tão velhinhos que nem saem mais de casa.
E se Thelonious não bate o pé, onde procurar os novos gênios do jazz? Gênios, gênios, nunca mais, mas há grandes músicos. É difícil alguém construir coisas para estar na mesma prateleira de Charles Mingus ou Miles Davis. Muito difícil.
Nem jovens rapazes muito doidos do tipo que curtiam os primórdios do Velvet Underground. Rapazes de preto com sapatos de bico e cara de tédio. Jovens mulheres, lindas de qualquer maneira. O rock underground ainda resiste, algumas bandas que também herdaram o estilo do Joy Division: Interpol, The National e similares.
Será que alguém ainda curte turmas da juventude? Somos ocupados demais, todos teclam o tempo inteiro em seus delicados smartphones e iPhones. Ou ficamos a escutar música rasa com fones vulgares.
Todos vão mais cedo para casa agora. Quase todos. Não serei injusto: ainda existe arte e desafio na noite de Nova York, mas o problema é que ninguém mais vai escrever "Walk on the wild side". Até mesmo os escritores são outros: não há Kerouac ou Burroughs, nem a poesia de Ginsberg, nem Gregory Corso. Quem vai descobrir e contar as novas histórias do down by law?
Tudo bem: vamos tentando de alguma forma. Se o melhor já passou, vamos tentar viver os tempos modernos da melhor forma possível.
JAZZ IS NOT DEAD.
Alguma coisa acontece nos corações sedentos quando procuram vestígios dos escombros do Grant's ou do Five Spot. Prosseguimos.
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