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Sunday, August 22, 2021

Inca

Entre maio de 2004 e abril de 2005, estive diariamente no INCA como visitante, acompanhando meu amigo Xuru. Não foram dias fáceis, mas deixaram algumas lembranças alegres e tristes. 

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Alicia (pseudônimo) era enfermeira do Russo. Uma gatona: baixinha, morena, aparelho nos dentes, cabelos pretos longos. Ela vinha e já tinha graça do Xuru: "Ahhh, Alicia, se terminar esse noivado eu te peço em casamento" (ele era casado). Ela ria muito. 

Numa noite chego em cima da hora dos acompanhantes (consegui um crachá especial). Era tão em cima da hora que resolvi subir as escadas até o quarto do Xuru, em vez de esperar o elevador. Logo na segunda virada para o segundo andar, involuntariamente corto uma tremenda pegação perto da porta que levava ao corredor. Alicia, linda, com um dos médicos que atendia meu amigo mas não sei dizer o nome. Dei boa noite e tchau. 

Chegando ao quarto, contei o acontecido. Franquinho, o Xuru só riu e disse "Peço em casamento assim mesmo". Era linda a Alicia. Continuou como uma excelente enfermeira. Sorria para mim nas visitas, com a devida distância regulamentar. 

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Visitar a UTI do INCA é uma experiência forte, que exige frieza. Pior de tudo era ouvir o médico dizendo antes "Vocês, que são parentes, precisam ter todas as agilidades funerárias à mão". 

Entrei. No box ao lado do Xuru, havia uma mulher linda, cheia de aparelhos ao corpo que faziam a contradição de seu lindo rosto. Algo terrível. 

Entrei no box e, sei lá como, o Xuru me disse "Que chato a gatona aqui do lado". Se ele estava no leito e não levantava, como conseguiu vê-la? Ou se baseou em relatos de visitas? Não sei dizer. 

No dia seguinte, o box ao lado estava vazio. O ballet da morte já tinha se apresentado. Conversei com o Xuru, mas não falamos disso. 

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Certa vez, o Xuru parecia melhor e ficamos andando pelo andar, até entramos em um espaço que dava para a varanda - e de lá víamos toda a praça da Cruz Vermelha e arredores. 

De cima, com o belo desenho circular e à distância da sofrida população de rua, tinhamos uma vista inédita muito bonita e rara. 

Xuru vibrou com aquele panorama. E fazia doces planos de alta que nos ajudaram a sonhar por algumas semanas. Do alto, navegamos.

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