Sete e meia da manhã na escola, 1977. Terceira série. Éramos eu, minha lancheira e minha mochilinha. Eu não lembro da turma, dos alunos, mas lembro do Seu Zé na portaria. Estudou comigo um menino de sobrenome Calegari. A professora se chamava Élida - me reservo ao direito de não chamá-la de "tia". Por alguma razão que não sei dizer, faz tempo demais, de repente ela começou a gritar na sala. Aquilo me apavorou, porque remetia imediatamente aos gritos de meu pai por embriaguez. Então chorei.
Para quê? Eu no fundo da sala e a professora num acesso de fúria, dizendo que detestava crianças choronas e mimadas, que não aceitava aquilo. Eu tinha oito anos de idade. Foi minha última aula com Élida, felizmente: troquei de turma, na verdade pulei de turma, e também de endereço: a escola era a mesma, mas em vez da Rua Tonelero passei para a Rua Tenreiro Aranha. Muitos anos depois é que percebi não ter feito a primeira e a terceira séries, cursando apenas um bimestre da segunda. Precisei sair e voltar da escola, eu estudava sozinho.
Desde criança chorei muito e quase diariamente. Geralmente sozinho, sem incomodar ninguém. Onze anos depois do faniquito de Élida, 1988, chorei de alegria pela primeira vez quando vi meu número cheio de algarismos no Jornal dos Sports, em março de 1988. Finalmente eu chegava à UERJ. Foi uma dureza: sem dinheiro, sem cursinho, sem trabalho, passei na prova e anularam o vestibular por fraude. Refiz e passei de novo. Meu choro foi na antiga sede do grupo de escoteiros, ao lado da Paróquia de Santa Cruz de Copacabana. Ia ter um almoço com bingo lá. Minha mãe apareceu, nos abraçamos e senti um orgulho enorme. Foi um domingo feliz e cheio de esperanças pelo que viria.
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Mais de quarenta anos depois, quem se lembra da escola? Difícil dizer. Os garotos viraram cinquentões, os quarentões têm quase 90.
O prédio de três andares teve outras finalidades e, mais recentemente, abrigou um hostel. Sobrou a fachada colorida, que lembra a capa de um livro meu, e uma faixa de anúncio comercial. E só.
Ao lado, parece ser o Edifício Brilhante. Se for, ali morou a Gisela, que era uma graça. Na esquina tem o Big Bi, que sucedeu um pé sujo e a Casa do Pão de Queijo, inaugurada por Georgia Wortmann, musa do bairro e das passarelas.
Uma da manhã de quarta. Se quiser, posso chorar à vontade. Tomei um milk shake de Ovomaltine, trabalhei até meia noite. Estou cansado. Bem cansado, mas o sol nascerá.
Ao longe, estouram fogos em Santa Teresa
@pauloandel
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