tão sincera por
todos os poros
da cidade
mergulhada na
falsa felicidade
do Facebook
nas verdades ocas
do WhatsApp
nas manchetes mentirosas
dos jornais
e suas imitações baratas
a tristeza é vencedora
nos semblantes arrogantes
na indiferença para com
as mãos de esmola
no ir e vir das gentes apressadas
no silêncio dos vagões lotados
e cabeças pensantes
com fones de ouvido
há tristeza na política
feita por gente de merda
na hipocrisia de generais
e juízes de merda
tristeza nas grandes avenidas
nas vielas, nas ruas esquecidas
há tristeza nas mãos armadas
de jovens traficantes
deixando a vida escorrer
em rastilhos de sangue seco
a tristeza nas portas das lojas
cerradas
nas vagas já preenchidas
na violência primitiva
no desamor que prevalece
e no amor que só existe
nos desencontros
há tristeza numa banca de revistas
sem leitores
numa carrocinha de açaí
sem compradores
numa linda praia de Copacabana
deserta e fria
há tristeza nos arredores
da Cinelândia
e da avenida Rio Branco
é carnaval, e daí?
a tristeza é a grande vencedora
a campeã do desfile
escondida entre os sorrisos
a cantoria, o tesão
a tristeza pelo que poderia ter sido
mas nunca será
a geografia permanecerá intocável
mas é impossível esconder
a tristeza: somos sem dúvida
uma cidade triste
por todos os poros de concreto
em cada gota de sangue
nas artérias de asfalto
tanta beleza infinita
num mar interminável
de corações tristes
e outros, infames, egoístas
é carnaval, é carnaval
mas muitos de nós carregamos
no peito um funeral
lágrimas contidas
e a sensação de que já
fizemos o suficiente
o suficiente
o suicídio da cidade é um poema
alguém não para de chorar!
celebremos o fim do que sequer
começou
@pauloamdel
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