Monday, February 05, 2018

o suicídio da cidade

há tristeza 
tão sincera por 
todos os poros
da cidade

mergulhada na 
falsa felicidade
do Facebook
nas verdades ocas
do WhatsApp
nas manchetes mentirosas
dos jornais
e suas imitações baratas

a tristeza é vencedora
nos semblantes arrogantes
na indiferença para com 
as mãos de esmola 
no ir e vir das gentes apressadas
no silêncio dos vagões lotados
e cabeças pensantes 
com fones de ouvido

há tristeza na política 
feita por gente de merda
na hipocrisia de generais
e juízes de merda 
tristeza nas grandes avenidas
nas vielas, nas ruas esquecidas
há tristeza nas mãos armadas
de jovens traficantes 
deixando a vida escorrer
em rastilhos de sangue seco 

a tristeza nas portas das lojas
cerradas
nas vagas já preenchidas
na violência primitiva
no desamor que prevalece
e no amor que só existe
nos desencontros 

há tristeza numa banca de revistas
sem leitores
numa carrocinha de açaí
sem compradores
numa linda praia de Copacabana
deserta e fria 
há tristeza nos arredores
da Cinelândia 
e da avenida Rio Branco

é carnaval, e daí? 
a tristeza é a grande vencedora
a campeã do desfile
escondida entre os sorrisos
a cantoria, o tesão 
a tristeza pelo que poderia ter sido
mas nunca será
a geografia permanecerá intocável
mas é impossível esconder 
a tristeza: somos sem dúvida
uma cidade triste
por todos os poros de concreto
em cada gota de sangue 
nas artérias de asfalto 

tanta beleza infinita 
num mar interminável 
de corações tristes
e outros, infames, egoístas
é carnaval, é carnaval
mas muitos de nós carregamos
no peito um funeral
lágrimas contidas 
e a sensação de que já
fizemos o suficiente
o suficiente
o suicídio da cidade é um poema
alguém não para de chorar! 
celebremos o fim do que sequer
começou 

@pauloamdel 

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