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Sunday, February 11, 2018

um abraço de Carnaval

Dois homens conversando nas imediações da Mem de Sá em plena alvorada do domingo de Carnaval. Podiam estar indo ou vindo, mas ali eram apenas dois confidentes, talvez tentando espantar a tristeza com um dos únicos punhados de celebração destas terras, que é quando as pessoas vão às ruas e cantam, dançam, transam, gozam, vibram e procuram algum sentido numa vida que é, entre sofrimentos, o intervalo para um trago ou um gole.

Falavam baixo para uma festa e alto para a madrugada, quase atrapalhando o sono desesperado dos mendigos nas imediações. Falavam de samba e sociedade, de alguma alegria e afeto, de pequenos brindes e deliciosas ilusões.

Quando se abraçaram, eram mais do que amigos ou irmãos. Dois camaradas, dois sobreviventes da guerrilha urbana, dois trabalhadores humildes celebrando os últimos momentos da primeira grande noite de Carnaval.

Um tomou um ônibus qualquer. O outro tomou o caminho de casa a pé. A noite acabou, o silêncio apareceu, o negrume do céu fica cada vez mais azulado, a Praça da Apoteose estava deitada em seu berço esplêndido. Ainda vai ter festa, mas tudo passa tão rápido que é preciso saborear cada momento.

Duma janela nas imediações, um velho homem testemunhara a despedida dos dois camaradas. Pensando em seu passado, quando acreditava ter amigos e estar longe do fim, ele se calou e chorou.

É Carnaval, mas existe um estranho cheiro de ruas tristes no ar.

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