além dos silêncios
e desencontros
ou em palavras que
nunca são ditas?
perdido entre hiatos
náufrago da distância
retrato de natureza
morta
ah, o meu amor
escondido em prateleiras
e postagens
insignificantes
ou em versos de
passos tortos
claudicantes de
um bêbado admirável
ele estende as mãos
de paixão
e pede esmolas
debaixo duma marquise
numa grande avenida
central
o meu amor anda sozinho
por ruas perigosas
e não dá bom dia
a estranhos
não dorme mas sonha
e espera o impossível
na próxima esquina
ele mora longe, longe
sem palavras
o meu amor está falido
em portas arriadas
cadeados fechados
e placas de aluga-se
há poesia em vão
escorrendo entre corações
de peitos vazios
e memórias desperdiçadas
o meu amor tão sozinho
esperando o VLT
às oito horas na Rio Branco
enquanto famílias
felizes trazem os filhos
de mãos dadas
ou alguém olhando
o antigo relógio da Mesbla
subindo a escada do metrô
na Cinelândia
o meu amor é um domingo
à noite
silencioso e fugidio
sem bares lotados
e risos
sem um grito de campeão
o último pouso
no Santos Dumont
enquanto a linda
comissária parece
tão indiferente ao fim
do expediente
o meu amor é um país
destruído
é um féretro vazio
é um livro que não
foi lido
e mora tarde, tarde
ele dá as costas
e dá de ombros
para caminhar sozinho
na madrugada
na avenida chile
procurando a morte
num assalto covarde
- ou celebrando a vida
sob escombros
no coração da grande
cidade
@pauloandel
1 comment:
Beleza!!
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