o verão e suas bombas de calor
escritórios refrigerados
mas também as telhas de amianto no supermercado popular
o engravatado sempre mereceu o que tem e terá
o camelô e o mendigo também
foi assim que deus fez ou alguém preferiu acreditar
é bem mais confortável
do que perder tempo em raciocinar
somos todos medíocres
fazendo de nossos olhares
a real fotografia do mundo
a crônica sincera das ruas do mundo
e nada vai reparar
o cinegrafista assassinado
o jovem negro de joelhos assassinado
a bela jovem negra policial
o perigoso ladrão de moedas acorrentado como velho escravo
a menina estuprada dois meses na cadeia do maranhão
o menino joão helio arrastado pelas ruas fúteis do mundo
somos todos medíocres
ao escolhermos as injustiças que devem ser reparadas
bem como as esquecidas
somos todos medíocres
quando pensamos em bandidos fazendo justiça pelo bem
somos todos medíocres
somos todos medíocres
a violência ainda é tão fascinante aos olhares medíocres
e lá vêm o carnaval, o feriadão, a copa do mundo
a quem interessa lembrar da passarela?
as ruas do mundo são fúteis
quando há racismo, exclusão, indiferença
gente que faz de gente passatempo
videogame imperfeito
vã distração que se descarta
os livros nem sempre são lidos como devido - na verdade nunca! -
as dialéticas não são estabelecidas
somos todos medíocres a juntar na mesma panela o cozido
de riqueza, sucesso e desprezo alheio
ridicularizamos os comunistas
e a inflação nos irrita - somos hipócritas demais, incoerentes vorazes
precisamos de mais tempo perto do fogo *como faziam os hippies*
mas ninguém liga
ninguém liga
o amor virou mercadoria - só serve em perfeitas condições
@pauloandel
* "Perto do fogo", Cazuza e Rita Lee, 1989.
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