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Wednesday, February 05, 2014

jazz!


Jazz é aquilo: ama-se ou não se compreende. Você está numa noite do Costa Brava com o mar infinito por todos os lados e espera Tatiana para um drink. Ou o Atlântico Sul beija o Imbuí enquanto Eliane, linda de morrer, olha como se buscasse o horizonte para si, amenizando o coração.

Tenho escutado jazz desde os tempos da faculdade. Minha primeira influência firme foi Jô Soares em seu programa de rádio que eu escutava num walkman vermelho, comprado no Camelódromo. Ao Jô devo o mergulho profundo; entretanto, antes dele eu já conhecia alguns nomes como Wayne Shorter e, claro, Miles Davis. E no programa, logo percebi que o meu jazz não era o de Jô, dos anos 30 com Gene Krupa, mas o avant-garde do fim dos anos 50, Ornette Coleman. Mas também Charles Mingus, Thelonious Monk, Sonny Rollins, McCoy Tyner, Miles, Chet, Coltrane, Blakey, outros.

Perto dos vinte e poucos anos, outro porto importante foi a livraria Berinjela, coração do Rio, avenida Rio Branco. Era amigo dos donos, ouvia muito jazz por lá quase diariamente entre os maravilhosos livros enquanto Carlito Azevedo falava do Chaves, Rubens Figueiredo sorria e Maurício dava sonoras gargalhadas à la Flipper quando Alvaro O Marechal fazia a performance da dança do Siri Patola. Kamille também ria e eu adorava. Tínhamos nosso divertido Café Bohemia imaginário e particular. Ou jogos de botão narrados por Jimmy Scott ou Julie London, belíssima.

Mergulhei para sempre nas vertentes, nas resenhas, buscando novos discos e artistas, tentando captar aquela atmosfera musical que um dia me fisgou para sempre. O jazz sempre esteve perto da poesia que pratiquei, das mulheres que amei e das pessoas queridas que já se foram para sempre.

Jazz não é só pra se ouvir, mas pra se sentir. Sonhar. Fugir. Experimentar momentos de sonho e liberdade num mundo cada vez mais reacionário e agressivo. Apague a luz, abra a janela, ligue o som e voe longe. Você pode dançar, ficar estático, deitar, procurar estrelas no teto do quarto, pensar na mulher desejada, um grupo de amigos rindo e brindando com o chope dourado da felicidade.

Tanto faz se são artistas consagrados ou iniciantes. Se o repertório é de standarts ou novidades. E daí que não estamos no Five Spot mas na Cruz Vermelha? Maravilhosas Jane Monheit e Diana Krall!

O jazz nascendo, toda liberdade para dentro da cabeça é pouca. O que sinto há vinte e tantos anos.

Chego a pensar em Zoot Sims atravessando a Figueiredo Magalhães em Copacabana enquanto meu velho amigo Fred arregala os olhos.

@pauloandel

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