Duas
garotas saborosas conversam animadamente enquanto seus amigos saltam
com skates em frente aos Arcos.
Perto
dali, mendigos deixam a vida escoar enquanto a dor é tamanha.
Jovens
estudantes procuram música pop na Livraria Cultura.
Uma
senhora gorda, mais gorda do que eu, traz seu carrinho de feira com
frutas e legumes superfaturados.
Numa
banca de jornal, senhores respeitáveis e um tanto efeminados espiam
revistas gays.
Noutra
banca de jornal, jovens impetuosos de camisetas pretas saúdam o
rock.
O
céu não tem fronteiras, o sol atravessa as nuvens carregadas e
brilha, brilha loucamente como se fosse sua última vez diante de
meus olhos fatigados. Mas ainda é cedo.
Baladeiros
ainda vivem a sexta-feira que passou. Caminham a passos largos e
risos idem de um lugar para outro.
O
escritor Paulo-Roberto Andel carrega consigo um livro de Jack
Kerouac, um cd de Herbert Vianna e ruma para sua casa confortável,
pobre e completamente bagunçada na Cruz Vermelha. Antes de almoçar,
deita-se, olha para o teto, puxa uma nota de papel para rabiscar um
poema para Juliana, pensa nos telefonemas que precisa fazer, lembra
de que tem um jantar com uma jovem e linda garota da Bahia e, talvez,
avalia a possibilidade de ir para São Paulo em busca de um rompante
dominical. Abandona tudo, lê Jack sozinho em voz alta para si mesmo, põe para tocar o cd de
David Bowie, conta os trocados na carteira, chora e ri por um
instante somente.
Meio-dia
na Lapa.
A noite vai ser longa.
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