O Brasil sempre teve vocação para grandes cantores, grandes vozes, a grandiloquência sem par de craques como Orlando Silva, Francisco Alves e congêneres. Ali, por volta dos anos trinta, destoava a singularidade de Mário Reis. Eram tempos dos grandes programas de rádio, com força equivalente à televisão atual. Ao mesmo tempo, a temática das canções era carregada: a dor, o drama, a mulher sem moral que trai, o sofrimento e a desilusão amorosas; os cabarés enfumaçados.
No final dos anos cinquenta, um jovem da Bahia virou tudo de cabeça para baixo, influenciado por muitas coisas e também pelo Mário. Com um violão impecável, sintetizou toda uma bateria de escola de samba. A voz era quase sussurrante. Saía a puta de cena e entrava a garota linda, leve, praiana. Em vez da dor, o amor safadinho mas romântico e delicado. Em vez da noite, o céu ensolarado. O baiano, ao lado de outros craques com Tom Jobim e Vinícius de Moraes, criou uma situação tão inesperada, empolgante e diferente na música brasileira que até hoje, mais de meio século depois, ainda é debatida se era um movimento, um momento ou um jeito de tocar e cantar - que até hoje influencia meio mundo musical no Brasil e no exterior, lotando casas nipônicas e norte-americanas com meses de antecedência. Tocar não somente as novas músicas como repaginar todo o grande cancioneiro de outrora, transformando as canções por completo. A batida é dele, o jeito de tocar é dele.
Samba de violão.
Voz de falar ao pé do ouvido da amada. Bossa Nova.
Voz de falar ao pé do ouvido da amada. Bossa Nova.
João Gilberto Prado Pereira de Oliveira.
Gênio do Olimpo brasileiro.
Perde-se muito tempo ao se falar das manias e possíveis esquisitices de João.
Hoje é dia de seus oitenta anos de vida.
Vamos celebrar um craque que rompeu barreiras, dinamitou paradigmas e abriu as porteiras para a música moderna feita nesta terra.
Louvemos João Gilberto. Ele está para nossa música assim como seu amigo e contemporâneo Tom Jobim, ou no futebol como Pelé, ou na literatura como Fernando Sabino, por exemplo. Oiticica nas artes plásticas. Cacaso na poesia. Paulo Autran no teatro e por aí afora. Goste-se ou não, um revolucionário na arte que escolheu para fazer e nela viver.
O Brasil não conhece o Brasil.
Um dia, há de conhecer - e aí veremos o quanto brilha em nossa constelação a magnífica estrela de João.
O Brasil não conhece o Brasil.
Um dia, há de conhecer - e aí veremos o quanto brilha em nossa constelação a magnífica estrela de João.
A Bossa Nova passou na prova!
Paulo-Roberto Andel, 10/06/2011
1 comment:
Bela e merecida homenagem. Abraços, Pedro.
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