Friday, June 10, 2011

JOÃO GILBERTO


O Brasil sempre teve vocação para grandes cantores, grandes vozes, a grandiloquência sem par de craques como Orlando Silva, Francisco Alves e congêneres. Ali, por volta dos anos trinta, destoava a singularidade de Mário Reis. Eram tempos dos grandes programas de rádio, com força equivalente à televisão atual. Ao mesmo tempo, a temática das canções era carregada: a dor, o drama, a mulher sem moral que trai, o sofrimento e a desilusão amorosas; os cabarés enfumaçados.

No final dos anos cinquenta, um jovem da Bahia virou tudo de cabeça para baixo, influenciado por muitas coisas e também pelo Mário. Com um violão impecável, sintetizou toda uma bateria de escola de samba. A voz era quase sussurrante. Saía a puta de cena e entrava a garota linda, leve, praiana. Em vez da dor, o amor safadinho mas romântico e delicado. Em vez da noite, o céu ensolarado. O baiano, ao lado de outros craques com Tom Jobim e Vinícius de Moraes, criou uma situação tão inesperada, empolgante e diferente na música brasileira que até hoje, mais de meio século depois, ainda é debatida se era um movimento, um momento ou um jeito de tocar e cantar - que até hoje influencia meio mundo musical no Brasil e no exterior, lotando casas nipônicas e norte-americanas com meses de antecedência. Tocar não somente as novas músicas como repaginar todo o grande cancioneiro de outrora, transformando as canções por completo. A batida é dele, o jeito de tocar é dele.

Samba de violão.

Voz de falar ao pé do ouvido da amada. Bossa Nova.

João Gilberto Prado Pereira de Oliveira.

Gênio do Olimpo brasileiro.

Perde-se muito tempo ao se falar das manias e possíveis esquisitices de João.

Hoje é dia de seus oitenta anos de vida.

Vamos celebrar um craque que rompeu barreiras, dinamitou paradigmas e abriu as porteiras para a música moderna feita nesta terra.

Louvemos João Gilberto. Ele está para nossa música assim como seu amigo e contemporâneo Tom Jobim, ou no futebol como Pelé, ou na literatura como Fernando Sabino, por exemplo. Oiticica nas artes plásticas. Cacaso na poesia. Paulo Autran no teatro e por aí afora. Goste-se ou não, um revolucionário na arte que escolheu para fazer e nela viver.

O Brasil não conhece o Brasil.

Um dia, há de conhecer - e aí veremos o quanto brilha em nossa constelação a magnífica estrela de João.

A Bossa Nova passou na prova!


Paulo-Roberto Andel, 10/06/2011

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