Translate

Friday, March 19, 2010

SERRA? NÃO. PSDB? JAMAIS!













A pouco mais de seis meses das eleições presidenciais brasileiras, ainda não tenho a certeza absoluta de meu voto, pela primeira vez deste que esta república democrática me permitiu a condição de eleitor.

Ele está encaminhado, muito bem-encaminhado até, mas não absolutamente decidido.

O que sei é que será um voto progressista, voltado para a maioria da população, que é humílima (quando não, miserável), ignara (contra a vontade íntima, ressalte-se) com uma trajetória de muitos anos abandonada à própria sorte (os menos letrados diriam que é o “destino”). Nem poderia ser de outra forma: parente de comunistas, criado por mais humildes que transitaram entre pobreza e riqueza, fugitivo da polícia nazista do AI-5 aos oito DIAS de idade por conta de “crime de associação ao socialismo”. O tempo passou, assumi minha não-religião e meu ateísmo, “crimes” considerados “inafiançáveis” em pleno 2010, tempo onde é normal que famosos convivam muito bem com traficantes armados; parlamentares escondam dinheiro público nas meias e digam que “não é bem o que você viu”; a pansexualidade seja vista como algo altamente elogioso e quase uma imposição, quando deveria se tratar apenas de uma opção pessoal. Temos celular, computador e tuíter: falta agora que se aprenda a ler. Bom, lá daqueles tempos de criança, eu ainda trouxe uma única lembrança do que poderia ter sido minha vida cristã: a danada mania de não se negar as origens, o passado e o respeito às memórias dos meus – tudo coisa que, hoje em dia, frente a executivos apressados que pisoteiam mendigos na Rio Branco, neofascistas de raso conhecimento que se tornam “colunistas” de revistas de “opinião” e fanáticos pela monocultura (um só time, um só canal de tevê, um só gênero musical), parece datado, mofado. Eu gosto de velharias.

Não traio os meus e meu passado. Lembro bem quando os militares ficaram chocados comigo quando perguntei a uma professora, numa visita da escola à Urca, porque a praia se chamava “Vermelha”. Era 1974, eu tinha seis anos de idade e quase passei pelo meu segundo B.O., com todo o ridículo contido nesta situação. Dez anos antes disso, o Brasil começava a ser incendiado pelo mar de estupidez que foi o golpe militar de 1964. Contra a ditadura, os mais esclarecidos, os grandes homens da esquerda e os estudantes. A UNE foi incendiada. Seu presidente era o jovem José Serra. Eram tempos de dor e morte, eram tempos de exílio ou prisão. Muitos anos depois, houve a “anistia”: todos os perseguidos livres para voltar à pátria amada (menos João Goulart, claro); todos os militares que fizeram papel de criminosos estavam absolvidos; todos os cadáveres dos torturados estavam desaparecidos. Desse jeito torto, o Brasil entrou na partida preliminar da “democracia”. Não perderei meu tempo com aqueles que ousam afirmar que “houve mortes dos dois lados na ditadura”: não polemizo com imbecis. Em caso de dúvida, a tabuada resolve a questão.

Acabou o bipartidarismo, tudo virou quase festa. A Nova República de Sarney. Tempos depois, nasceu o PSDB, fruto da insatisfação com os cinco anos de mandato do então presidente, mais a expectativa de implementação do regime parlamentarista. Lá estavam os respeitáveis Mário Covas, José Serra e Ciro Gomes. Nem tão respeitável assim, FHC. Num prazo de cinco anos, o PSDB perdeu a liderança de Covas, Ciro pulou e o partido, conhecido durante anos pela política “em cima do muro”, que consistia em não fechar alianças com progressistas e conservadores, ao descer dele, juntou-se ao que havia de pior na política do país: o PFL, ex-PDS, ex-ARENA, ex-UDN e, hoje, com toda a ironia possível, chamado de “Democratas”. O partido dos oligopólios, da tirania ruralista, da TFP e de tantas mazelas para o Brasil tornou-se o braço direito dos “neoliberais”. Governaram juntos, enamorados de mãos dadas.

Veio a euforia do frango a um real (com salários congelados em 20 de junho e preços congelados em 30 de junho, com cinqüenta por cento de inflação ao mês), da estabilidade econômica, do fim da inflação... e, em paralelo, a Teoria do Estado Mínimo: doação das estatais, o caso Proer, o SIVAM, a destruição das universidades públicas e dos serviços de Estado, com reajuste zero aos servidores por quase uma década, culminando com o escândalo da reeleição de FHC FAZENDO CAMPANHA DURANTE O PRÓPRIO MANDATO E MUDANDO A CONSTITUIÇÃO EM PRÓPRIO BENEFÍCIO (hoje, falam de Lula fazendo campanha para Dilma? Ah, ah, ah!). Sob tirania política, o plano de reeleição deu certo; contudo, o fôlego era curto e as pessoas se cansaram. Em 2002, Lula venceu mais pelo desastre dos últimos anos de PSDB do que propriamente pela grande euforia popular; cansada dos engodos do partido dos “intelectuais”, a população que sempre negou a figura do “paraíba” resolveu aceitá-lo. Dos poucos bons momentos do segundo mandato de FHC, neles estava José Serra, em um partido já estraçalhado, dividido entre o alto empresariado e velhos coronelismos, representados pelos nomes de Tasso Jereissati e Arthur Virgílio. A figura de Covas era passado.

Lula ganhou com facilidade, foi reeleito contra planos de golpismo barato às vésperas do pleito (ora, ora, o grande “mensalão” era ou não era, na prática, o “rolo compressor” do governo anterior?) e a resposta veio nos números: o Brasil é, hoje, ainda muito longe do que os brasileiros de bem gostariam, mas é bem distante do atraso do desemprego a um real. Discutir política não é torcer num Fla-Flu; precisa-se mais do que isso. Trata-se de ver números, enxergar o óbvio: a diminuição da miséria, a inserção na escola de uma população infantil ignorada; a geração de emprego e renda nas regiões miseráveis que foram priorizadas pelo Bolsa-Familia. Falta muita, muita coisa. Mas o Brasil caminhou em frente sim.

Entendo que se o jovem José Serra, presidente da UNE, tivesse caminhado junto aos seus velhos companheiros no rumo de um Brasil progressista, inevitavelmente teria que ter deixado o PSDB, tal como fez (corajosamente) Ciro Gomes, que, ao não compactuar com os desmandos de FHC, disputou duas eleições por partidos minoritários, perdeu força, mas não abdicou de combater a doação do Estado feita pelo “presidente dotô” e sua bancada moderna. Tal como parece fazer agora, Serra se calou. Acatou o PFL, acatou ACM, acatou os desmandos. Então, pergunto: se quem cala consente e, por tabela, mantém a situação vigente, o Brasil tem condição de caminhar para o futuro com um presidente de caráter conservador? Foi com conservadorismos e "estadomínimo" que conseguimos decuplicar nossos níveis de emprego? NÃO!

O PSDB foi tão abalroado pela popularidade de Lula que está completamente perdido, só encontrando repercussão na boca de eventuais papagaios repetidores de “textos” da “revista” Veja (mas não leia...) – em suma, palavrões, ataques, deboches vulgares e nada de discussão política. Serra, sem caminho, sem coragem para ter rompido com o conservadorismo e sem coragem para abrir mão de uma campanha fadada ao fracasso, se mantém calado. Seria uma saída digna. Se pretende realmente mudar o Brasil, que deixe este partido nefasto e busque noutra legenda os caminhos que o levaram a ser um bom Ministro da Saúde, à época perdido por ser minoria num partido controlado pelos “democratas” de outrora.

Ainda não tenho certeza se votarei em Dilma. É um caminho natural e o mais viável.

Considero Ciro um excelente candidato. É preciso observar as alianças.

Marina Silva, também, apesar de o PV estar mais “endireitado” do que deveria. Bem mais.

A convicção é uma só: hoje, JAMAIS votarei em José Serra porque NUNCA, NUNCA, votarei no PSDB. Do sangue de onde vim, não cabe ficar em cima do muro para, ao descê-lo, pisar no pântano da direita de 1964 travestida de democrata. Nenhum desgoverno que doe a Petrobrás e o Banco do Brasil pode ser melhor do que o pior momento de um governo do PT, por exemplo.

Não perderia tempo em escrever sobre política xingando José Serra, pessoa a quem considero até admirável sob certos (e poucos) pontos de vista. Isso fica para os cães que ladram enquanto a caravana de Lula passa. Não voto no atraso enrustido de modernidade do PSDB. Jamais votarei. Não jogaria fora trinta e cinco anos de estudos, nem o passado recente do Brasil. Apenas isso.

Brizola vive!


Paulo-Roberto Andel

2 comments:

Lau Milesi said...

Eu voto em você, meu amigo. Que lucidez!!! Benza Deus!!!

Olha o Ciro aí geeeente!!!

Beijos da revolucionária[rs]

Ana Guimarães said...

Que texto! Merecia estar na primeira página dos principais jornais! Uma aula de história, que rememorei capítulo a capítulo.
Parabéns, Paulo, pela lucidez.
Grande abraço!