Falar que Dora era apenas linda pareceria piegas ou diminutivo; para os mais atentos, não deve ter sido muito fácil descrever seu corpo de estátua grega, seu olhar cintilante e o rosto que cairia bem em qualquer passarela. Contudo, não se restringiu em vida apenas à beleza física.
Dora foi uma das grandes atletas brasileiras de todos os tempos, daquelas que um esporte passa a ser comentado por causa da performance dum determinado atleta. Foi assim no passado com Maria Esther Bueno e Aída dos Santos, para deixar dois entre muitos exemplos. Ganhou a América muitas vezes e bateu as ondas gigantes do Hawai. E virou referência de mulher ao mar.
Dora, de beleza infinita e mais que admirável, tinha um jeito de lady européia, tipo de mulher que cai muito bem na virtude de Ipanema com todo o jeito de Mônaco. Falando manso e com muita articulação. Mais ou menos isso. Charme especial, sofisticado.
Passou a vida desafiando as intempéries da natureza, nos mares, solitária em sua realização pessoal no esporte. Não havia alguém para tabelar, trocar passes, não havia nada ao lado - apenas ela e o mar bravio. Terminou a vida ainda jovem, muito aquém do justo e merecido - e, por desagradável coincidência, da mesma forma como sempre viveu: encarando as dificuldades da natureza, sob temporal, e sozinha ao carro onde acidentou-se derradeiramente.
Eu agradeço a Dora pelo que fez pelo esporte do Brasil, sozinha, catando apoios e patrocínios num lugar onde o futebol, nossa apoteose, ainda é tão mal-explorado e vilipendiado por gentes nefastas - e imagine-se dos outros esportes. Mais ainda, em muitas vezes que falou à imprensa, defendendo o direito de mulheres que, por opção, não tivessem se casado, tido filhos e que não fosem homossexuais - assim, combateu de uma vez só o machismo e o "achismo" dos que, em pleno século XX, ainda insistem em ditar comportamentos sobre o que "homem" e "mulher" devem "fazer". Seja o que tenha sido, sozinha que fosse, fãs não lhe faltaram aos pés.
Para os mais próximos, ela deve ter deixado muitas lições.
Para mim, apenas um amador fã à distância, desde minha adolescência, o ensinamento de que a mulher pode - e deve - buscar tanto beleza interior quanto exterior, ter postura, educação, fidalguia, formação intelectual e uma outra qualidade que anda rara no mercado: classe.
Eu adorava ver aquela mulher como numa fotografia, sozinha rumo ao mar, fosse qualquer tempo, carregando sua prancha e trilhando solitariamente o reconhecimento no esporte. Havia algo de atitude, personalidade ali. E linda.
Que esteja bem, tão bem quanto me fez sem nunca ter sabido. Muito bem.
Paulo-Roberto Andel, 24/01/2008
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