I
quando você foi embora
não deixou rastro, nem cheiro
e nem carta de até mais
o que me parecia delírio
tomou ares de eterna mudez,
de silêncio inconveniente,
que ensurdece e apavora
você foi embora e cerrou meu canto,
rachou meu coração em dois,
ficou um para a vida ingrata,
com suas dores e paixões,
cheia de não e porém, ou talvez
e certeza de quase nada
a outra metade é toda tua
sempre tua, a cada momento
hoje eu não quero ver o sol
nem o mar da praiva vermelha,
basta-me cogitar o teu abraço,
o teu beijo de afago e certa graça
que só mora em teu sorriso,
em tuas piadas de sempre
hoje, não posso apertar a tua mão,
e daí?
todo lugar tem o teu rosto
qualquer frase na tua voz é poema
e cada passo que eu dou
exige o respirar do teu ar
do meu amor solene
teu, perene
II
A longa noite
é longa e morna
é longa e mansa
há noite
há um caminho de pedras
e percalços escondidos
no fúnebre silêncio
imerso em negrume
à própria sorte
a morte à noite
alonga-se a noite, feito um açoite
nas costas nuas dos pretos velhos,
dilacerados em vida
há noite ao norte
para cada estrela que brilha,
mesmo há muito morta,
a estrela estende as mãos
em forma de brilho,
na desilusão da esperança
que não se prende,
não espera quem a alcança
afoito, pela noite,
avançando horizonte
há noite, a longa noite,
doce e traidora noite,
que repousa cativa
no mar da tranquilidade,
no afago secreto da lua,
serpente no monte,
há noite,
a longa noite em riste
é tristeza pintada com aquarela.
Em homenagem à pessoa mais importante de minha vida, minha mãe, Maria de Lourdes Andel.
Paulo-Roberto Andel, 04/01/2008
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