Sou fã de Peter Gabriel desde garoto. Ao contrário de 99% dos fãs do Genesis, eu prefiro PG em sua carreira solo, que considero das maiores da história da música, explorando novas sonoridades e incorporando elementos étnicos do mundo inteiro, mas o Genesis é o Genesis, eu reconheço.
Também tem o seguinte: quando comecei ouvir a banda, Peter já tinha saído para a carreira solo. Eu comecei pelo Genesis já com Phil Collins nos vocais. Anos mais tarde é que retroagi aos álbuns da Era Gabriel.
Bom, o fato é que nos anos 1980, PG ganhou o mundo de lavada com seu álbum “So”: fez os melhores clipes da época, como o do superhit “Sledgehammer”, lotou a grade da MTV e foi um sucesso nas rádios do mundo inteiro.
Justamente naquela época, após o primeiro Rock in Rio, a cidade virou referência para bandas de todas as partes. Antes, em 1988, Peter Gabriel se apresentou em São Paulo para um show da Anistia Internacional, ao lado de craques como Sting, Bruce Springsteen e outras feras. O Rio de Janeiro era um futuro palco óbvio, levou um tempo mas acabou acontecendo. Outubro de 1993, no maravilhoso Imperator no Méier.
Naquele tempo eu era estudante da UERJ e já comecei a fazer meus planos para ir para o show. Juntar meu dinheirinho de estagiário para comprar ingresso. Vivíamos um paradoxo: enquanto eu sonhava com um emprego para ajudar minha família, sofríamos em casa com uma ação de despejo. A música, assim como o futebol, eram verdadeira morfina para mim.
Peter Gabriel ia tocar no Imperator numa segunda-feira à noite, acho, provavelmente por ser a única data disponível num buraco de agenda entre shows pela América do Sul. O que importa é que seria maravilhoso vê-lo ao vivo, só que me aconteceu um problema inesperado: duas semanas antes da apresentação minha professora de Cálculo das Diferenças Finitas, a querida Mariluci, marcou uma prova decisiva para meus objetivos acadêmicos. Gelei. Não dava pra ir ao show, voltar de madrugada e fazer a prova. Meu sonho tinha ido pro buraco.
Comecei a me consolar: o Rio já era um porto seguro para os artistas, eu ia perder aquela mas ele voltaria. Claro que voltaria.
[Esperando aquele show há pelo menos dez anos…
Enfim, passou o final de semana, chegou o dia, a grande noite de segunda-feira e eu não ia para o show. Fiquei me preparando para a prova. Fiquei pensando em casa, estudei bastante, estava confirmado de certa forma, mas claro que minha cabeça estava no Imperator. Falo de 1993, um tempo sem vídeos, internet, nada.
Na terça pela manhã, peguei meu ônibus 434, vou tranquilo para a UERJ bem cedinho, às 6 horas da manhã, com tempo suficiente para chegar com calma e me posicionar para a prova.
Ao chegar no hall do sexto andar, vejo algumas movimentações. De repente, surge Madalena, grande secretária da faculdade e diz que não teremos mais prova, já que a professora Mariluci não poderia comparecer por motivo de saúde.
Me bateu mistura de tristeza, de raiva, de tudo que você pode imaginar. Claro, ninguém tem culpa de ficar doente, caso da professora, mas achei uma tremenda injustiça comigo. A turma da faculdade não entendeu direito, poucos sabiam quem era Peter Gabriel - a maioria estava ligada em axé music, grande sensação midiática daquele momento. Fui para a varandinha sozinho e provavelmente chorei.
Ficou uma lacuna para sempre. Peter Gabriel nunca mais se apresentou no Rio. Um mês depois, mudei de Copacabana contra a vontade. Que porradas!
Trinta anos depois, não tenho nenhuma chance de morar no meu bairro eterno, mas pelo menos a internet ajuda: Peter Gabriel está lançando um novo álbum, “I/O”, e lançou as faixas no Instagram. Dá pra ver tudo. São outros tempos, há algum consolo.
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