não quero influenciar ninguém.
não tenho seguidores. não sou uma seita.
tenho é pessoas que se identificam com meu trabalho. não.
não quero. não quero.
não quero viralizar nada. não quero nenhum sucesso. só quero escrever minhas coisas em paz. ter um lugar pra morar. ter comida. camisas, bermudas e um par de chinelos. o óculos eu já tenho.
só quero um punhado de paz que nunca tive, nem nos momentos mais merecidos, e não quero experimentar a morte para saber o que é a paz.
só quero os cds e livros e os jogos. alguns shows. algumas conversas.
só quero um punhado do que sobrou do meu amor, não.
não quero um milhão de amigos. eu não tenho amigos. os meus amigos estão todos mortos. basta os colegas.
não quero ter razão, eu não quero ter sentido, eu não quero supremacia.
eu só quero dormir com alguma paz.
não quero nem sonhar. viver já basta. quem sabe, cinco anos de vida. como disse aquele infeliz, é melhor viver cinco anos a mil do que mil anos a cinco.
eu não quero pose nem fama nem luxo. só quero um pôr do sol em arraial ou no imbuí.
eu não quero ternos, nem gravatas, nem voos de primeira classe. quero é andar de novo pela geral do maracanã. colocar meus chinelos de traves, chutar minha bola de borracha e fingir que sou feliz para sempre.
eu não quero festa nem bagunça nem luxúria nem esbórnia. tudo isso eu já provei. o que tenho agora é um pouco de desespero, nenhuma saída, um copo de água bem gelada e meu amor escrevendo no WhatsApp. e meu amor numa foto no Instagram. e meu amor tão longe que nem o cemitério sabe dizer.
eu só quero um pouco de paz. não me interessa a ralé que me boicota - ela não tem como me superar. podem fazer o que fizerem, serão sempre minúsculos diante de escritores de verdade - e eu sou um deles, com frases desconexas, versos tortos e sentidos confusos. se até aqui você sentiu um pouco de free jazz, então captou o meu espírito.
eu só quero honrar minha mãe que, meses antes de sua morte, disse ter orgulho de mim porque eu era bonzinho e fazia o bem. quem deixa a mãe orgulhosa não precisa de fama nem fortuna. eu não preciso.
eu só quero escapar da morte e não virar mendigo. eu só preciso de uma casinha. eu só preciso de alguma ajuda. se alguém investir no meu trabalho, pode obter um bom lucro. não estou à venda, mas disponível para trabalho.
eu sou um brasileiro de quase 55 anos, que sofre muito porque é pobre e vê muita gente sofrendo muito mais, sem água ao lado de gente com carro importado e smartphone. eu sou um brasileiro, logo sofro. eu sou um comunista de gestos cristãos, e não acredito mais em vários colegas de esquerda que falam uma coisa mas fazem outra, outra.
eu tenho na verdade oito anos de idade e, com meus olhos infantis, choro pelo mundo que vivo. só o que me salva agora é anastácia cantando forró no programa de rolando boldrim - e ele, mesmo morto, continua um fenômeno da nossa grande arte.
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