antigamente eu gostava de ir à padaria. era a celebração de um novo dia. agora não é mais. deixa pra lá.
desci e usei minha rua como pequena amostra. ela é uma importante via de corte do centro e acesso à zona sul.
o novo normal: apesar do preço estúpido da gasolina, o número de carros tem aumentado no trânsito. carros. praticamente não há ônibus. o ponto está vazio. no máximo algumas bicicletas do itaú e grandes caixas de comida a domicílio. praticamente só.
na lateral da cruz vermelha, o velho cheiro insuportável de urina coletiva, porque a população em situação de rua não tem qualquer direito, imagine um banheiro. por isso o fedor é para todos. viva o neoliberalismo.
cem metros depois, a padaria. os frios são ruins. o pão é bom. as atendentes são atenciosas. sete pães, um sonho de creme, uma qualy pequena, uma coca-cola, vinte e seis reais.
desvio do fedor. há um silêncio constrangedor de rua triste. o brasil está muito triste, mas os carros não vão parar. não há ônibus porque não há trabalhadores. agora é falar com a turma na portaria, tentar rir de alguma coisa, ligar o computador, trabalhar, vender, escrever, ficar mais triste pela morte do tio do amigo e espiar a réstia nublada que escapa pelo pedacinho da cortina.
ah, e tomar café. ainda há um sonho, nem que seja de creme. novo normal. novo normal. que merda: não era isso que o verão de 1988 prometia para tanto tempo depois.
@p.r.andel
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