o que me sobrou foi um par
de chinelos velhos e grandes
com eles, navego às ruas
sem pensar bem no futuro
nem no presente
aterrorizante
e dou meus passos humildes
sem grandes conquistas
mas também sem falsos
amigos
com seus discursos vazios
meus pequenos passos que
não
me levam onde procuro
nenhum rastro de meus pais
meu irmão não dá um pio
de modo que são passos
tristes
sozinhos, porém necessários
porque a vida é dos andarilhos
dos que atravessam muitas ruas
e colecionam nomes, fatos, sons:
as cores e pedras, a gente
que passa
meus pequenos passos necessários
sem falsos abraços e risadas
infelizes
mergulhando feito sangue nas
veias
e artérias do que sobrou
dessa cidade
o que me sobrou foi meu amor, que
tenho em hectolitros e toneladas
não existe sobrevivência sem
amor
apreço, bondade, solidariedade:
o resto não passa de mentira
oca
arrogância de corações primitivos
o supra sumo da vã verborragia
meu amor é um par de
chinelos grandes
que calço para caminhar rumo ao
outono
sem grandes vitórias, sem hipocrisia
sem trair quem ainda me
considera
dou meus pequenos passos
confiantes
meus pés me desviam
do mau caminho
a borracha não me deixa derrapar
mais:
eu só preciso de um pequeno
punhado
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