o poeta não falha
o poeta não dorme
e sequer se arrepende
não tomem o ledo engano
da aparente mudez
é nas palavras escritas
que o poeta vive e suspira
alimentando desejos
o poeta atravessa as nuvens
e as travessas de calçada
com asas de frases
e ases de quatro naipes
ninguém é de ferro, exceto o poeta
que flana tranquilo
de costas à brisa
e doce desdém ao Atlântico
leve indisciplina
contra o mar da Guanabara
dá de ombros, infalível
espera o vir da vida à frente
o poeta não cala, nem dança
pois ali, ao certo léu
ele faz-se a própria música
o próprio sopro de vida
que chamamos poesia
o poeta não falha, nem dorme
o poeta não morre
faz-se vivo e rijo
feito os ferros de seu corpo
seu sangue
sua imagem que jamais se desfaz
Paulo-Roberto Andel, 20/08/2007
(homenagem aos 20 anos da passagem de Carlos Drummond de Andrade)
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