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Friday, April 27, 2007

Cotidianos

Vivo alternando os rasos e profundos
Malversando princípios e fins
Enquanto os meios são avenida principal
Sigo reto, torto
Perdido em minha ávida lucidez
Que namora afirmativas incertezas
Ofereço um bouquet delicado
Com doze rosas de vermelho intenso
Noutras vezes, sou gás mostarda
Napalm na mão, qualquer sinal
Quando vem uma nublada vespertina
Suntuosa entre os deuses da chuva
Saio cantando pelas ruas de Copacabana
Ensopado pelas águas celestes
Há dias em que faço imaginárias serenatas
Nas janelas das Alessandras, Tatianas
Uma Isaura somente, respeitosamente
Ao longe, vejo as caravelas de sonho
Que afastam-se do Leme rumo ao infinito
Vivo rente, em riste, rispidamente
E sigo o conselho de um grande escritor
Só me interessam as causas perdidas
Delas, não me arrependo; aquecem-me
Importante competir, ideal é vencer
Perder é recomeçar, reconstruir
Dedilhar o castelo de areia desfeito
Vivo muitas vezes, morro noutras, todos dias
Adormeço, invado pesadelos até renascer
Vivo de quandos, por enquanto
Sinto falta-me um portanto, conclusão
Estou longe demais da última estação
Do fim da linha, da viagem derradeira
E, por incrível que pareça a quem me guia
Quando tudo parece assustadoramente perdido
Sou feijão no meio do algodão, juvenil
Basta um copo de plástico barato de abrigo
Meio dedo d’água e vagarosamente floresço

19/04/2007

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