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Saturday, September 09, 2023

Onde estão eles?

Eu penso muito. Em muitas coisas e pessoas. 

Hoje comecei a pensar em um monte de gente que me lembro, mas provavelmente sequer sabe da minha existência. 

Gente que foi minha vizinha, gente que estudou comigo - foram muitas escolas, gente com quem joguei bola na praia, gente do bairro que me cumprimentava com a levantada da sobrancelha - você não fala mas reconhece a pessoa. 

Lembrei de gente e coisas, algumas muito duras e outras até felizes. E me dei conta que uma parte dessas pessoas pertence à minha vida, mas eu não pertenço às delas. 

Falo de gente de longe, dos anos 1970, 1980 e 1990, não de agora, onde ficou quem tinha que ficar e saiu quem tinha que sair. 

É sobre gente que sumiu. 

Eu lembro dos nomes, dos rostos, nem tanto das vozes. E lugares também. 

Lojas que faleceram, prédios inteiros, lugares. Copacabana por exemplo, que é tão igual mas mudou muita coisa que só os veteranos conheceram. 

Deitado na cama e espiando o show do Foo Fighters, começo a pensar na quantidade de pessoas que conheci e nunca mais vi. Elas não morreram para mim, mas podem ter morrido de verdade. Eu nem nasci para elas e isso é engraçado. 

Em grupos muito pequenos, de três ou quatro pessoas, eu sou o único sobrevivente e tudo me parece estranho. 

Agora mesmo me lembro de uma vizinha bonita que não vejo há 40 anos. Um jornaleiro que também sumiu há 40 anos. Colegas de escola e vizinhança, lembro de dois que por sinal torciam para o America. Lembro até do vendedor da loja de roupas numa loja da Figueiredo Magalhães, que era muito roqueiro e também homofóbico - vivia sacaneando Rob Halford e Lou Reed. 

Lembro duma outra garota bonita, bonita, que nem olhava pra gente e era irmã de um conhecido - ela passava pela gente quase todo dia e nos desprezava, ou não sei dizer se era uma autodefesa porque ela tinha um mínimo problema motor e talvez tivesse vergonha - mal ela sabe que a achávamos linda demais, porque ninguém falou com ninguém. 

Achei graça de lembrar também que uma garota da sexta série queria me dar um beijo, porque resolvi um exercício difícil de Matemática - eu fiquei com vergonha, acredita? Claro, nós, garotos de 1980 com 11 ou 12 anos éramos verdadeiras crianças - a ditadura de certa forma nos fez retraídos e tristes. Nunca mais vi a garota, nem seu irmão que era um botafoguense fanático? Que fim será?

Naquele tempo mal havia telefone e uma simples mudança de endereço podia significar a morte em vida do pré-adolescente. Agora tudo mudou: telefonar para alguém é quase um crime, as pessoas deixam dias sem resposta no Whatsapp - mas quando precisam, são as primeiras a chamar, e agora tudo é descartável. Se você não pensa como eu, você é burro e não entende nada, então eu posso silenciar você e me livrar da oposição. Eu sempre sei mais, mesmo quando comprovadamente eu não sei pomba nenhuma. 

Deixa de seguir, exclui, bloqueia, silencia, deixa invisível. 

Foi pra isso que inventamos o smartphone? 

@pauloandel

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