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Wednesday, July 26, 2023

Sinéad O'Connor

Justamente ontem, Sinéad O'Connor partiu para sempre. Ainda me lembro quando a vi pela primeira vez, na capa de seu disco que alguém levou para a casa do Fred. A beleza de seu rosto me causou um impacto absurdo, pois era acompanhada do crânio raspado, uma ousadia que pouquíssimas mulheres praticavam no mundo todo. Eu mesmo era o único careca voluntário das minhas turmas. Tinha o Alexandre Gomes na faculdade, que era gente muito boa e sumiu. Só. Em Copacabana, só Monique Evans, linda de enlouquecer, tinha coragem de usar o cabelo muito curto.

No apartamento, enquanto discutíamos qualquer coisa, alguém lembrava como Sinéad era linda e logo alguma amiga ciumenta reclamava. Ríamos e contestávamos. 

A beleza do rosto de Sinéad me impactou por muito tempo, aumentando ainda mais quando explodiu o vídeo clip de "Nothing compares to you", que ganhou o mundo - uma canção de Prince que ela transformou em sua com maestria - há cantoras com esse poder, Marina Lima, Adriana Calcanhotto, Tina Turner, que cantam e interpretam de um jeito único, virando parceiras dos autores. 

Nenhuma mulher raspa o crânio sem atitude. Sinéad era uma força da natureza. Lançou alguns álbuns ótimos que a intelligentzia desprezou porque estava mais interessada em fofocas e polêmicas. Enfrentou poderosos cara a cara e não arredou pé, o que lhe custou severos boicotes. 

Foi linda até o fim. Aguentou tudo, menos o pior castigo que sofre uma mãe: perder um filho. Morreu jovem demais. Os mais novos precisam conhecê-la.

Volto a 1989 e revejo a casa de Fred. Alguns amigos estão longe, as garotas também, alguns se foram para sempre. Não parece longe, foi outro dia. Eu não me esqueço da contemplação daquela beleza, que ainda tem uma marca: a tristeza do olhar e semblante. Tive sorte com garotas bonitas, fui amigo de muitas, namorei algumas, flertei com outras e me casei com uma.

Independentemente disso, tive e tenho minhas admirações pela beleza em si, que basta. Ana Paula era linda, assim como Luciene e depois Juliana, depois Gabriella. Amigas, colegas e admirações cujos rostos me remetem à beleza e que me lembro agora. A diferença é que me lembro de todas belas, muito belas mas com algum sorriso, desfraldado ou contido, emoldurado pelos cabelos. Sinéad não: era a beleza monumental do rosto triste e careca. Nela, tudo era desafio, até mesmo a beleza. A beleza.

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