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Wednesday, April 21, 2021

pequenininho

Amoçando com meu amigo Leo e, na mesa em frente, um jovem casal em apuros gastronômicos: o pequeno herdeiro, de meses, não podia ficar parado no colo da mãe ou do pai - imediatamente chorava bem alto, banguelinha, com enorme potência vocal infantil. 

Achei graça da cena. Leo também. A mãe balançava, o bebê ficava no mar da tranquilidade. Parou um segundo, buááááá! Depois o pai o pegou no colo e foi caminhar pelo salão, ele se acalmou. 

Ri também ao me lembrar que minha mãe me chamou de pequenininho até meus 38 anos, quando ela morreu. Raul me disse que Marô o chama de bebê, ele tem 44 anos e também me assusto porque, para mim, sempre será um garoto. Os referenciais mudam. Somos todos pequenininhos para os pais e mães. Meu pai não era de falar muito, mas devia me achar pequenininho também. 

É claro que a vida é como sabemos, e naturalmente todos vamos morrer. Mas tinha que ter um jeito dos filhos não terem que sofrer com a morte dos pais e vice-versa. É um delírio, é surrealismo, não dá mas deveria dar. A orfandade é algo tão doloroso que basta algum amigo sofrê-la e você sofre duas vezes, pela solidariedade e pelas próprias lembranças. 

Às vezes rio quando lembro da minha mãe. Ela detestava que eu a chamasse de Garfield porque o achava muito feio. Nem de pinguim, porque era muito baixinho. Minha mãe sofreu demais mas foi muito boa para mim. Pouco tempo antes de morrer, ela me disse que tinha orgulho de mim porque eu fazia o bem, e que se não fosse minha mãe queria ter sido minha amiga. É um dos poucos orgulhos que carrego. 

Hoje morreu a mãe do Silvio. Senti o velho soco duas vezes, o da dor dele e da minha, que carrego para sempre. Não tem jeito. Você segue em frente, há muito a ser feito, mas em algum lugar da sala fica um vazio desértico. 

Foi o Thiago, foi a Gisele outro dia por aqui. Tudo o que estamos vivendo acentua as perdas: quem não vê uma notícia de óbito por aqui? Vamos em frente, vamos em frente. 

Na TV passa um jogo, acho que é da Inter de Limeira. Estou deitado na mesma cama em que praticamente nasci. 

Já faz tempo. O tempo.

@pauloandel

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