tenho morrido muitas
vezes e foram tantas
vezes na semana
passada que não pude
dormir
e perto da minha cabeceira
um poderoso ventilador ligado
parece a turbina de um avião
[olho para o teto e finjo uma
viagem
[a janela é a porta principal
uma aeronave rumo a destino
algum
e minha poltrona esgarçada
enquanto sinto fome
sede, cansaço e o peso da
morte:
é que tenho morrido vezes
demais
e isso me tira o sono
- meu teto é um céu sem
estrelas
ela dorme ao lado e viaja
tranquila demais
a minha paz é a mão estendida
mendiga
pedindo esmolas num circo
lotado na avenida brasil
e por isso morro sem dormir
em algum lugar do teto tem
lua
o ronco do motor à rua
denuncia outra morte
[a noite que não dorme, o corpo
que não sonha, o grande irmão
copacabana, vejo teus brilhos
teus galãs e fêmeas da noite
e boates encerradas
meu coração na janela
procurando o sentido do fim:
para onde se mudou o amor?
a turbina em meu ouvido
não cessa
minhas fomes e dores
o meu amor que dorme
a dor que me adormece
copacabana, meu abraço
os garotos ficaram distantes
é que o sonho já deu no pé
a luz da janela é a derrota
a saída principal sem voz
@pauloandel
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