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Wednesday, April 04, 2018

a tempestade em dia solar

a liberdade é utopia quando
os corações estão embebidos em ódio

a liberdade é uma farsa
nunca seremos verdadeiramente livres
não existe vitória no fascismo
nem nas síndromes de Estocolmo
ainda somos tão atrasados 
quanto há cinquenta anos escorridos
torturaram e fingimos não ver
estupraram e fingimos não ver
a indiferença é a nossa cegueira
a estupidez é nossa esperança
- enquanto isso, contamos nossos mortos
nossas mulheres fuziladas
as mãos de esmola que desprezamos 
a nossa ética seletiva
minha voz enternecida só vai gritar palavrões
e frases odiosas
canta a tua última canção, Brasil
até a próxima grande farsa!
em nome de deus, da pátria e da família
espalhamos cólera e ignorância demais
depois contamos nossos mortos 
e preparamos as malas para o feriado
hipócritas, doces hipócritas que somos
fingimos felicidades mentirosas
ou até 
sinceras, dependendo do grau 
de escrotidão
gostamos de gente debaixo das marquises
ou sob escombros dos barracos
estes crimes dão sentido às nossas vidas
fúteis
celebradas no fascismo do jornal nacional
do café da manhã com frutas e frios
e tiros na lataria blindada
nunca seremos livres 
enquanto formos tão boçais
celebrando as mortes, a dor e o caos
até o derradeiro tiro na cabeça 
o grande voo da morte pela janela vazia
até o último voto de confiança no ódio
canta, Brasil! canta, canta! 
ah, república federativa cheia de árvores
derrubadas em vão
e gente dizendo 'eu não tenho bandido de estimação'

@pauloandel 

(contém citações de "Canta Brasil", de David Nasser e Alcyr Pires Vermelho, e de "Serafim Ponte Grande", de Oswald de Andrade)

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