Você não engana a si próprio. É absolutamente inútil. Pode contar todas as mentiras que quiser, pode falsear, pode até viver uma vida que não é a tua na tela de um computador, mas não vai adiantar: é impossível enganar a si próprio além de um breve momento delirante. Há muitos vocês em você mesmo, mas um deles é insuperável: o real. O você de verdade, que talvez nem mesmo você conheça direito, mas que inevitavelmente aparece a cada vez que você se deita e olha para o teto escuro de luz apagada. E aí você se depara com quem realmente é, com todos os fracassos pessoais que finge não ter experimentado; das drogas ilícitas que não consumiu, não por princípios ou serenidade, mas por cagaço; das mulheres que fingiu ter mas nunca lhe foram nada além de inspiração para masturbar-se; dos homens que desejou mas não teve qualquer coragem de viver seu tesão; dos amigos que não soube fazer porque a arrogância lhe lambe as vísceras; dos portes que não tomou porque lhe faltou coragem para viver uma pequena derrocada noturna. E então o que parecia grande coisa não é porra nenhuma: você se vê num espelho imaginário e encara toda a sua feiúra, toda a sua alma desajeitada, toda a sua futilidade e isso não cabe em nenhuma mulher. E das histórias que você contou mas não viveu? Lá estão no mesmo teto, como se fosse a faixa de torcida organizada onde se lê "mentiroso de merda!". Você nunca esfregou sua buceta em outra, nunca gozou pelo cu como tanto queria, nunca sequer se sentiu beijada de verdade. A avereza do rosto se encontra com a pobreza do caráter numa alma atormentada e, por isso mesmo, você nunca vai enganar a si mesmo. Deitado em berço esplêndido da mediocridade, você olha para a janela baixa e não se ilude: sabe que é um merda, um flácido, um pústula que caga ódio pelas ventas para não defecar a si próprio. Você tem fama, dinheiro, fode com vários caras, faz pose vitoriosa mas sabe não ter nada a comemorar. Você é desimportante e por isso se impõe pela virulência verbal, mas os teus dias vão ficar bem piores, você não engana a si mesma. Acorda, amor: a vida é hoje, somos todos bosta e você é desimportante. Somos todos formiguinhas em desconstrução, você também está com a sorte de nave mãe.
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