Translate

Sunday, August 17, 2014

a feiúra da alma atormentada

era arrogante a ponto de parecer estupidez que as veias fizessem o sangue de seu corpo circular. um inútil trabalho de abastecimento visando alimentar um corpo de alma fútil, deslumbrada com a ingenuidade das palavras difíceis mas ocas, o peito estufado a sugerir a imponência de um corpo amorfo em plena harmonia com um rosto horrível, repugnante e fiel em sorrisos aos rococós travestidos de sofisticação, tudo para esconder a dor que sentia diante do espelho.

era arrogante a ponto de ser incapaz do exercício das pequenas coisas, usando a intolerância, o sarcasmo e o deboche como principais armas de auto afirmação, em vez do progresso próprio, da capacidade de realizações, da construção de um caminho confortável e harmonioso. a falsa intelectualidade que ostentava, fruto de orelhas de livro em vez de miolos, não enganava qualquer observador dotado de argúcia.

era arrogante, sem talento, com as mãos no estandarte da feiúra, carente de brilho próprio, mas dispunha-se a ofender o próximo pela incapacidade de enxergar as próprias limitações, tão evidentes a qualquer um.

no fim das contas, era de uma tristeza infinita: não há pessoa capaz de enganar a si mesma, exceto os loucos, os psicopatas. nem a esse extremo chegava: até para se ter os piores predicados, a mediocridade não basta.

a feiúra própria lhe arreganhava as vísceras. mas não apenas a de um rosto horrível, que poderia ser menos horrível dependendo de quem visse; como atenuar uma alma horripilante? não há dinheiro que pague. não há fama ou notoriedade que conforte. 

@pauloandel

No comments: