Ele
foi o gênio, o gigante e o desafiador dos costumes.
Deu
de ombros às convenções durante toda sua vida.
Do
colossal poeta de versos melancólicos ao ensolarado letrista de música.
Do
diplomata ao boêmio brindando a vida a cada instante.
Do
simpatizante (inicial, ressalte-se) do fascio
italiano ao comunismo honesto no CPC da UNE e da postura libertária em defesa
de um país mergulhado em ditadura e tortura, indo às ruas e sendo perseguido
pelo regime, exonerado inclusive.
Do
pensador de pequenas tristezas ao amante incomparável que sempre teve jovens
mulheres a seu lado. As jovens, oh!
O
que dizer de sua ruptura com o mundo “convencional”, entregando-se aos orixás e
paixões da Bahia?
Quando
já era um poeta completo e consagrado, estalou os dedos e fez a música popular
brasileira do avesso. O que antes soava como a mulher fatal, a adúltera, dos
ambientes enfumaçados, virou a garota dourada do sol à beira-mar, com abraços e
beijinhos e carinhos sem ter fim.
Um
carioca típico? Uma estátua de Ipanema (embora não tenha morado mais do que
cinco anos no bairro, somadas todas as passagens)? Uma legenda da poesia? O
paradigma do intelectual brasileiro, transigindo entre o erudito e o mais do
que popular?
Marcus
Vinicius da Cruz de Mello Moraes.
Muito mais do que isso tudo.
Num
Olimpo de gigantes da arte do Brasil, lá está o velho Vinicius brilhando no céu
feito a estrela solitária do Botafogo de seu coração.
Ainda
me lembro do dia em que morreu. Começou o jornal das sete, tudo falava do nome
dele, eu descobri que tinha morrido um poeta. Meu pai mudo, paralisado.
Meia-hora depois, desci ao supermercado em frente de casa para comprar pão. Ao
lado, um botequim. Silêncios e silêncios. A morte do poeta calou a cidade. E
foi assim que o conheci: pela morte. Era 1980, eu tinha doze anos.
Depois
o estudei, pesquisei, admirei e nunca vi tanta vida nas letras que derramou.
“É melhor ser alegre que
ser triste/ Alegria é a melhor coisa que existe/ É assim como a luz no coração/
Mas pra fazer um samba com beleza/ É preciso um bocado de tristeza/ É preciso
um bocado de tristeza/ Senão, não se faz um samba não.”
Agora,
cem anos de Vinícius de Moraes.
“Eu possa me dizer do
amor (que tive):/ Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure.”
Em
nenhuma das intermináveis noites regadas a drinques, risos e generosidades
femininas, Vinicius deve ter imaginado que, trinta e três anos depois de sua
morte - e no aniversário de cem anos -, seria tão vivo e presente, mesmo numa
cidade e num país que, às vezes, parecem rumar ao individualismo e à
indiferença maiores. Contudo, nem tudo está perdido.
Ainda não.
Vinicius
nasceu em agosto de 1913. Rubem Braga no mesmo ano, em janeiro.
E
ainda dizem que 13 é número de azar.
A
sorte do Brasil ainda sorri.
“O amigo: um ser que a vida não explica/ Que
só se vai ao ver outro nascer/ E o espelho de minha alma multiplica...”
Ave
poeta! Saravá!
@pauloandel
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