Ou duas. Ou três.
Assistir ontem ao emocionante duelo entre Flamengo e Santos me fez rever a infância. Melhor ainda: os tempos que não vivi, no futebol dos anos cinquenta e sessenta.
Assistir ontem ao emocionante duelo entre Flamengo e Santos me fez rever a infância. Melhor ainda: os tempos que não vivi, no futebol dos anos cinquenta e sessenta.
Era impossível levantar da poltrona e perder algum lance. Primeiro, o Santos devastador com três a zero em meio tempo. A seguir, a fúria imediata do Flamengo a mostrar que ali não seria canja de galinha, empatando um jogo que muitos consideravam perdido antes mesmo do intervalo. Ali sim se viu um espetáculo digno de fazer o torcedor esperar até dez horas da noite para saborear futebol. E futebol de verdade. Desconte-se apenas a ridícula cobrança do pênalti por Elano e a justíssima firula do goleiro Felipe no pós-defesa. Três a três foi pouco: poderia ter sido cinco a cinco. Um show.
No segundo tempo, de cara Neymar fez o quarto gol, logo ele que tinha deitado e rolado no campo. Mas Ronaldinho pela primeira vez fez completo jus ao salário e, mesmo que tenha sido por uma noite somente, voltou a ser aquele menino que encantou o futebol brasileiro tal como o Neymar começa a fazer agora. O jogo parecia tão nostágico em sua colossal qualidade técnica que a eterna camisa rubro-negra estava praticamente limpa, sem os malfadados patrocínios no peito que destroem os uniformes dos times mundo afora, tudo por conta das enormes boladas de dinheiro pagas. Mas o Flamengo queria mais, sempre mais e virou o jogo com dois maravilhosos petardos do Ronaldinho.
No fundo, no fundo, talvez tenha sido injusto ter um vencedor naquele jogo de ontem, que foi o melhor do ano, dos últimos anos ou de uma década, por tão bonito que foi o espetáculo. Mas somente talvez, depois explico. Matematicamente, o jogo não significou quase nada em termos de tabela: o Flamengo continua bem e o Santos ainda tem jogos a acertar. Agora, daqui a cinquenta anos, vários senhores dirão "Eu era menino e passei a amar futebol por causa de uma partida em que o Flamengo venceu o Santos por cinco a quatro na Vila Belmiro, no ano de 2011", não tenho dúvidas. E eu, que já sou um senhor, ao ver aquilo tudo voltei a ser menino: naqueles tempos, além de ver os jogos do meu amado Fluminense, ia sempre ao Maracanã ver jogos de outros times também, tudo por apreço ao futebol.
Foi uma grande noite, daquelas que sabemos ser cada vez mais raras em nosso país. Uma pena.
No mais, agora coloco o talvez para escanteio: a vitória da Gávea foi justa sim. Antes do jogo, metade da imprensa apontava o Santos como favorito. O futebol não aceita essas coisas: ele nasceu para contrariar a lógica e, por isso, ser o esporte mais popular, apaixonante e falado do planeta. Por não ser favorito, o Flamengo jogou o possível e o impossível e, ao lado do maravilhoso Santos escreveu uma linda página da história do futebol brasileiro. Não havia um título, uma grande disputa, uma cabeça à prêmio. Foi somente arte, correria e talento, tudo a serviço de quem ama o jogo de talento com bola no pé no tapete de grama.
Graças a esse jogão de ontem, adquiri forças para aguentar mil jogos medíocres pela frente. E espero rever algo parecido em breve, muito breve, de preferência com a vitória das minhas cores de Laranjeiras.
Quem não viu ontem, que trate de gravar ou fazer o download. Não foi apenas um grande jogo de futebol.
Foi cinema.
Paulo-Roberto Andel, 28/07/2011
4 comments:
Não há jornalista de jornal nenhum carioca que me faça ler uma crônica sobre futebol até o fim.
Parabéns! Jogada perfeita!
beijo
Eu entendo. Também, há muito tempo os jornais não têm mais cronistas de futebol: essa função passou a ser exercida pelos humoristas. Bj e muito obrigado.
Sensacional, o jogo e a crônica.
Show de bola.
Ambos
bçs
Paulinho, depois do que a Elika e o Nelson falaram só posso dizer amém e...genial!!!
Um jogaço, mas que o Elano não sabe cobrar pênalti...ahhhh...não sabe não.:0
Beijosss
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