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Monday, April 18, 2011

HOMO SAPIENS


Admirável talvez seja enxergar na multidão a mais evidente forma de solidão humana. Estar em um milhão é estar plenamente sozinho diante de avassaladores números, entre respirações e corações em movimento. Cada vez mais enxergo o ser humano em coletivo com certa estranheza; fazem coisas que não fariam sozinhos, geralmente contra a moral e o respeito ao próximo, haja vista a baderna de torcedores ditos organizados pelas ruas do mundo. Somos estranhos na condição de grupo: falamos de paz mas não a praticamos, fingimos fraternidade entre falsas conversas, sugerimos uma perfeição que não existe. Temos caprichado na solidariedade por computador, muito distante da vida real: diante de uma tela, fazemos amigos, batemos papos furados e outros positivos, às vezes trabalhamos. Existe um sol lá fora que serve como lazer de muito poucos: ai daqueles que batem pino carregando caixas e pesos e dores por conta de uma moedinha, um trocado, um pão com manteiga. Somos estranhos quando vemos os defeitos os outros mas somos incapazes de nos enxergar frente ao espelho de nossa suposta alma. Somos estranhos quando criticamos a tudo e não tomamos consciência dos nossos próprios defeitos. Muitas vezes, queremos o mais e mais por nada, o simples prazer de ter que, no fundo, remete a nenhum sentido. O fato é que o mundo tem muito mais dor do que cor, muito mais dor do que amor e uma pequena parcelinha pode viver com certas regalias e tecnologias, mais alguma felicidade social próxima enquanto a maioria despe suas vidas em sacrifícios que vão levar do nada ao lugar nenhum. O mesmo homem, tão admirável que conquista, cria e faz o progresso, é também o homem que corrompe, destroi e mata. O mesmo homem, tão apegado às crenças e à vida depois da vida é o homem que se esquece de praticar o bem durante a própria vida. Por vezes, mais ávido por auto-afirmação do que por sede de conhecimento, dinheiro ou poder, o homem tropeça em sua própria limitação humana: a de não perceber, respeitar e tentar colaborar. Quantas vezes elefantes e formigas já nos deram tais lições? Muitas, muitas. Da roda ao tablet, é certo que viramos o mundo, inventamos muito e avançamos muito. Agora, dentro de nós mesmos, não há como espantar a inevitável aragem da mediocridade.

Paulo-Roberto Andel


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