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Wednesday, March 30, 2011

COLAGENS

I


mergulhado no fundo



de

um




poço


cardiológico



II


e então rimos sem qualquer sentido/ das tragédias à tela de elétrons/ ou ficamos inertes/ diante do enfartado na avenida central/ e achamos lindeza no céu/ enquanto a terra é cinza e crua e vocifera cadáveres/ a terra é linda e seus mortos e famintos sofrem, sofrem/ nunca terão a dignidade devida/ nem mesmo a garota gordinha que frita bifes numa loja de lanches/ ou o garoto que entrega panfletos rejeitados/ rimos pela nossa própria estupidez/ enquanto o agiota explora/ o golpista falsifica e senhor nenhum perdoa nossas dívidas/ a natureza é bela e nossa ganância sabe destrui-la como ninguém/ o estranho mundo onde vivemos quase sem sentido e toda vã recordação morre sem destino algum/ por estas palavras os egoístam me chamarão de tolo e cego e comunista/ sempre sabem o que melhor dizer, eu reconheço.



III


dói em mim

o doce lancinante

da tua voz

juvenil

sempre tão longe

e longe

que me parece lenda:

beleza efêmera

para ansiar

meu coração



IV


a única coisa

relevante,

frente ao caos urbano

é a desconstrução -

começar de novo,

viver a modéstia

e assumir a culpa

da nossa fragorosa

solidão. Paulo-Roberto Andel, 30/03/2011

3 comments:

Pedro Du Bois said...

"viver a modéstia / e assumir a culpa / da nossa fragorosa / solidão"

e o que mais poderíamos dizer, não, caro amigo? Que a vida é a vida que temos por aqui, talvez.

grato pelas suas palavras.
abraços, Pedro.

Paulo-Roberto Andel said...

Eu que agradeço, poeta. Sempre. Braxxxx

Lau Milesi said...

Lindos e tristes cenários, mas sempre talentosamente desenhados .
Um beijo