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Wednesday, June 21, 2006

A crônica partida

De acordo com alguns homens das letras, por vezes tidos como de brilhante espectro intelectual, a crônica é tida como um gênero literário “menor”. Coloco aspas na diminuição: a meu ver, são válidas porque discordo frontalmente dessa opinião. Como poderia ser menor para nós, brasileiros, uma expressão cultural que nos deu simplesmente Rubem Braga?

Eu, que cronista não sou, defendo a idéia central do velho Braga a respeito do tema: crônica é viver em voz alta. Mesmo que passe pela auto-bustificação, conforme a visão de outro craque, Ivan Lessa.

A crônica é o jeito de garantir eternidade aos momentos que, por confusão mental nossa, minha e sua sim, parecem desimportantes, mas não são. Para mim, é o resultado da vista firme do poeta que se reflete nos comentários, todos que não precisam ser os de maior profundidade.

O bem que confronta o mal; o sol que brilha na tarde que sucedeu uma manhã nublada; o sorriso da criança; o olhar da mulher amada; um humilde engraxate em busca de seu ganha-pão; o disco que toca a bossa; o melhor time da semana; a traição e a verdade; o fim da linha. É tudo simples e definitivo. É tudo vida.

Em crônica, tudo cabe – assim, não é o gênero menor, e sim o maior, o mais profundo. Cheio de formas e nuances.

Uma crônica reticente ou definitiva? Pode ser, pois.

Uma descrição rasa ou profunda? Também.

Recheada de palavras que nos tragam ventos de delicadeza ou da mais pura aspereza, quem sabe?

Viva? Permanente, mesmo que feita para o entendimento efêmero.

A crônica é partida constante para um infinito de idéias que, gigantescas ou curtíssimas sejam, congrega a síntese do eterno presente em que vivemos. Repetidas vezes, tal como fosse uma crônica e incessante partida rumo ao mar da tranqüilidade. Redundante pelo próprio nome: crônica.

Ou ainda a crônica partida, rasgada, de cujas entranhas venha sempre um novo amontoado de palavras, quase versos, capazes de expressar a nossa, humana, genuína capacidade artística, que é a de pensar.
(Paulo Roberto Andel, 21/06/06)

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