Olá, querida,
Em primeiro lugar, muito prazer. Você não me conhecia, mas eu te conhecia, aha! Anos atrás, tive uma loja de cds usados e nela, também vendia alguns discos de artistas pertencentes a selos independentes, outros fora da opressão midiática e por aí vai. Isso deve ter uns seis anos, acho, 2004. Então, o tempo se foi e, talvez porque nem tudo seja fácil num país de tamanho continental feito o Brasil, a verdade é que nunca tinha visto um show teu. Disco, até sexta, eu tinha o “Achou!”, muito bom por sinal. Agora só falta um!
Nestes dias, uma alegria enorme foi rever a Sala Funarte, palco de shows fantásticos que assisti, sempre a bons preços e no coração da cidade. Fizeram um projeto novo, a produtora é da pesada, as coisas acontecem. Dei uma espiada na programação e vi que tinha o teu nome. Disse “é hoje”, leia-se sexta, mas não era bem assim: ingressos esgotados, em cima do laço consegui uma promoção no Twitter e a sala me ofereceu uma cadeira. Melhor ainda, meu amigo Marcelo é o técnico de som. Mais melhor de bom, meu grande amigo Felício Torres, uma das autoridades musicais desta cidade, também estava presente.
Discos são discos. Os melhores sabem emocionar, cativar, levar o ouvinte para outras atmosferas. Creio que os que conhecem o teu trabalho possam já ter compartilhado de tal experiência. Porém, uma coisa é certa: quem gosta da música do mundo, da música da alegria, liberdade e beleza precisa ter a chance de ver o teu show, precisa estar in loco porque só vendo ele é possível ver como a música chega ao infinito. Meia-hora antes do espetáculo, levei um tombão num desses milhares de buracos nas calçadas do Centro do Rio; quando você começou a cantar, a dor passou e fiquei contente.
Por sorte minha, já pude ver alguns shows de música muito bons, de vários gêneros. O Eric Clapton, os Rolling Stones, Tom Jobim duas vezes (numa delas, para dezoito pessoas num Teatro da UERJ vazio por má-divulgação), Bob Dylan duas vezes, os Cariocas, João Donato, Raphael Rabello, Nana Vasconcellos, Tomás Improta, Maurício Einhorn, Uakti, Makely Ka, Youssou N´Dour, Caetano, Gil, Paulinho da Viola, Ed Motta, Adriana Calcanhotto, Joyce, Leny Andrade, Cássia Eller, muita gente. Agora, fazer um show virar procissão, eu só tinha visto uma vez: em abril de 1990, Paul Mc Cartney cantando “Strawberry Fields Forever”. A segunda foi na sexta-feira, quando você ao final do teu show cantou a espetacular “Oração do Anjo”, que só podia ter uma craque como a Matilda Kovac no meio. Sou agnóstico, mas isso não me impediu de seguir a procissão que se formou nos rostos da Sala Funarte, nem que fosse com o olhar, enquanto você navegava calmamente por entre a platéia, pisando como se estivesse na Lua. Se tivesse saído da Sala e ganho a rua Araújo Porto Alegre, tenho certeza de que todos nós iríamos atrás de você para onde fosse. Um dos momentos mais belos que vi de música em toda a minha vida, no que lhe sou muitíssimo grato.
Não sei se você percebeu, mas o fim a tua apresentação causou um estarrecimento depois dos merecidíssimos aplausos. Acho que a turma percebeu que era hora de voltar ao planeta Terra, onde as coisas definitivamente são menos leves e doces e profundas, menos lindas e intensas. Então, formou-se uma fila para te cumprimentar, que não era somente de fãs, mas de missionários na verdade. O meu amigo Marcelo, que cuidou do som, fazia questão de te cumprimentar e, por isso, eu não entrei na fila: esperamos quase todo mundo ir embora. Assim, eu fiquei vários minutos vendo como você cumprimentava as pessoas com tanta simpatia, tanta dignidade. Foi outro momento fantástico: nós, mortais, sempre nos sentimos bem quando os artistas nos dão os melhores exemplos; somos fãs e, de certa forma, buscamos no ídolo a perfeição que nos falta de alguma forma. Assim, foi por isso que eu preferi não falar na hora e resolvi escrever, até porque a palavra publicada fica. É uma pequena esculturinha.
Poderia falar também dos momentos maravilhosos repartidos com a Jussara Silveira. Ano que vem a gente merece um show das duas, juntas juntinhas!
Gostaria de agradecer imensamente pela oportunidade de ter visto o teu trabalho de perto. Num Rio de Janeiro de pele linda, mas cicatrizado por injustiças, desigualdades, egoísmo, uma hora e meia da tua música nos servem de antídoto, feito aquele que um dia Jards Macalé e Capinam escreveram: “No céu de Gotham City há um sinal/ Sistema elétrico nervoso contra o mal”.
É um imenso orgulho saber que lá nos Países Baixos, na bela e gloriosa Holanda, estamos tão bem-representados por você. Quem te vê por lá só pode imaginar o melhor do Brasil.
Obrigado por teu trabalho maravilhoso, tua música que liberta, tua simpatia, beleza e atenciosidade, tua voz fantástica de dois mil oceanos. Obrigado pela tua presença no coração do Rio. Obrigado por mostrar que, numa hora e meia de música, a vida faz todo o sentido e ela tem beleza, beleza, beleza e poesia. Beleza e canto. Beleza e vida.
Abro o plástico do cedê, bem como antigamente neste tempo de dáumlôadis. Esbarro com Gigante Brasil, Dante Ozzetti, Kleber Albuquerque. Aí lembro do Zeca Baleiro, do Itamar Assumpção, da Rita Ribeiro.
É esse Brasil que eu quero para mim.
Cheguei até aqui para dizer que você é sensacional. Mas isso deve soar repetitivo; não tem como você mesma não saber. A Sala Funarte é testemunha.
Um grande beijo, espero que tenha tido uma boa viagem e, por favor, volte logo.
Nós precisamos!
Paulo-Roberto Andel, 16/08/2010
(Crédito da foto: Fernando Aguiar)
3 comments:
Poxa Paulinho, me deu água na boca. Não assiti...
Que legal, envia a carta pra ela. Aproveite a proximidade do seu amigo.Ela iria adorar.
Linda , sua carta.
Como tudo que vocé faz, né?:)
Tá vendo, não é a só a Ceumar que tem fã...[rs]
Beijosss, amigo querido.
E.T.
A Lele e Cia... estão literalmente no ar a essa hora.Snif...
ela já respondeu. é sensacional. maravilhosa.
enorme show.
amanhã te ligo na moralllllllllllllll
Adoro Ceumar!
E vc meu amigo, tão multi! tão cheio de historias e agora tão cheio de blogs, só assim mesmo para vc dividir toda essa criatividade que vc tem.
MUUUUUUUUUUU
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