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Thursday, May 06, 2010
AGORAS (OU O SAMBA DO CAVALO)
o que nos faz crer
sermos
impávidos colossos
gigantes pela própria
natureza?
uma beleza que não
sabemos
enxergar
perdida
nas ruas lotadas, apinhadas
num corre-corre
enquanto mãos indigentes
se estendem
num adiar da morte?
delas, fugimos feito cavalos
chucros e indomáveis
somos tão modernos
elegantes na fineza
de nossos ternos
até que um segundo
da era também moderna
nos trasforme
em brechós humanos
capachos
do desengano
lacaios da insensatez –
felizmente
não somos eternos:
muito, muito menos do que cavalos
nobres e dignos cavalos
um escritório é coleira
home banking é morfina
blackberry, cadafalso;
os livros mastigam poeira
as canções dispensam encarte
foto, drama, paixão;
cada miami, um paraíso
cada falácia, um engano
somos impávidos colossos
apenas por consolação:
o papel que nos resta
é [ode] de
flácidos
cavalos
cavalos de tróia
diante de uma guerra surda
onde a derrota
significa vida –
vida?
que vida e dor?
gigantes
pela própria natureza
são os sábios
que riem de nós,
riem de nosso rancor
encardido
nossa ânsia de posse
do intangível:
planos infalíveis
com tintura acre
somos tão cavalos para o nada:
falsos cavalos
a mostrar beleza
cobrindo uma carne vazia
temos pêlos cuidados
por nada melhor a fazer
e nossos coices, coitados
apenas denunciam
toda verdade:
parecemos os melhores
mas nossa sabedoria oca
nos delata –
por isso, não somos
verdadeiros cavalos;
é a dignidade que não
nos abençoa
e faz eco
somente nos asfalto
nada de areia ou grama
somos tão vencedores
mas perdemos
o primeiro
o segundo
e o terceiro
páreos
Paulo-Roberto Andel, 06/05/2010
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4 comments:
Paulo,
Uma reflexão sobre o que nos faz crer que somos "impávidos colossos", como individuo, como cidadão, como nação, como integrante de um imenso bioma.
Sem reflexão perderemos os páreos no turfe da vida.
Lindo e de qualidade o seu poema, como sempre.
Abraços
Luiz Ramos
Totalmente grato pela generosidade e palavras, Luiz. De coração.
Grande brax, obrigado de sempre e tua presença aqui é sempre uma honra.
Um talento indescritível com as palavras.
Crítica muito bem amparada pela realidade.
Todo o agradecimento, querida.
Seja bem-vinda!
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