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Monday, May 18, 2009

SHORT CUTS - CENAS HUMANAS E UM BESTALHÃO



Sexta-feira, dezenove horas.

Não escuto a “Voz do Brasil”, mas sim a campainha.

Fernando, meu amigo. Vinte e sete anos sem contato visual não-virtual. Os tempos voam longe.

Trinta segundos de um forte abraço, e tudo volta como era antes.

Jogos de futebol no rádio, com Waldyr Amaral e Jorge Curi. Saldanha comentava, os repórteres de campo eram Kleber Leite e Loureiro Neto. No Botafogo, Borrachinha, China, Ademir Lobo e Mendonça. Fluminense? Wendel, Miranda, o velho Moisés, Edinho, Pintinho. E Nunes.

Amigo é amigo, não importa a pausa. Aperte o botão, e a fita cassete continua do ponto onde parou. Tanto faz se havia Muro de Berlin, Jimmy Carter ou Roberta Close. O mundo gira, a Lusitana roda.

Camarão no Bar do Peixe, coisa fina. Pequenos regalos da vida.

Estamos de volta.

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Sábado nublado pela manhã, deixo a casa de Dória, no Méier. Rimos muito por lá. Não direi o assunto.

Preciso chegar em Niterói, onde Gustavo e Irene me esperam para um almoço. Um grande almoço. Na casa deles, qualquer refeição é monumental.

O Méier é terra das meninas lindas. Sempre. Antes, havia Luciene, Sonia Chris e mais outra, que não merece tamanha audiência. Deixe estar.

Desço a Dias da Cruz, movimentada como lhe convém.

Uma senhora na contramão. Quarenta e poucos anos, talvez mais. Nas mãos, uma caixa de doces. Não está vestida humildemente, não parece uma trabalhadora de rua, uma vendedora de balas. Caminha lenta, mas firmemente. E chora.

Por conta das lágrimas, tento lhe falar algo, mas delicadamente ela faz um aparte, mostrando a palma da mão livre, e segue seu caminho. Outra garota tenta, em vão. A senhora parece numa procissão de dor. O resto da turma segue indiferente, fingindo não ver e, conseqüentemente, se omitido. Preocupação com a dor dos outros, para eles, é comunismo.

Em sua recusa de compartilhar a dor, em sua caminhada serena de morte, em sua tristeza infinita, a moça tem uma dignidade

Vem o 247.

A garota senta perto de mim e me pergunta o que tinha acontecido com a senhora.

Nunca saberemos.

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A casa de Irene é para se ouvir sua risada. Talvez seja um dos únicos lugares na Terra onde ainda me sinto em casa, além de não querer vir para minha própria casa quando chega o fim da atividade. Confesso que já deixei mais de uma namorada na mão só para ficar lá. Confesso também que não me arrependi, exceto num dia em que um louco chato defendia a democracia de Armínio Fraga.

Meu casal de amigos é daqueles para você ficar conversando por horas, horas e horas.

Aproveitei o ensejo para fazer uns golaços no futebol de botão.

Antes, fala-se de tudo: programas trash, esportes, gente bizarra, chatos, canções, biscoitos e até o incrível fato de um sexagenário efeminado sedento por manjar meu “bilau”, como saberemos adiante.

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Domingo era dia de Fred.

Dizem que Fred morreu. Eu vi, mas não acredito. Eu acredito, mas não confio.

Fred é meu pensamento, é minha lembrança e meu arsenal de risadas.

Fizemos um almoço-chope-tributo ao amigo querido. De meio-dia até três ou quatro da tarde, talvez. Delícias da Cobal do Humaitá.

Fechamos conta às oito.

Ri muito com Jorge Pinto. Um dia, eu conto.

Fred vive, do jeito dele e nosso.

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Eu prometi que não ia mais falar de meus três detratores, mas priorizar meus cem fãs do Orkut, meus trezentos amigos e todas as pessoas de bem que visitam meu blog. Dos três apedeutas, dois sossegaram o facho, talvez por traço no Ibope. Restou um.

Peço pausa para uma vezinha. A última. A piada é boa demais para ser verdade. Conversei com uma gata-jornalista sobre o tema e ela me incentivou.

Em quinze anos de vida eletrônica, já vi de tudo em e-mails, listas, sáites e blóguis. Mas a surpresa é sempre uma possibilidade.

Recebi uma mensagem dum sujeito por estes dias. Mensagem, não; um número dois, vindo de um número dois com cérebro de número dois. Da natureza dos covardes, assinou como Anomymous. Compreendo: se eu também fosse um covarde e não tivesse sequer vinte reais para pagar uma conta de luz (quanto mais as custas de um processo judicial), por exemplo, faria o mesmo. Pensando bem, não faria.

Não um leitor, propriamente: na verdade, um borra-botas, vociferando contra mim palavras de baixo calão que, por conta de sua frouxidão, jamais serão repetidas em minha frente, na cara – a marca registrada dos covardes. O dito cujo teria idade para ser meu pai – caráter, não. Mas exerceu o direito democrático de escrever tolices como se fosse um pós-adolescente, repetente incessante no segundo grau. Tudo bem, um idiota a mais, um idiota a menos, está na média. Nem todo mundo tem culpa de ter trinta anos a menos de idade mental. Também não terei, caso o encontre na rua e coloque seu focinho na nuca num estalar de dedos: agirei sob forte emoção, à letra fria da lei. Mas não comemoro: quebrar meia-dúzia de dentes podres de um fracote não é nenhuma vantagem para um boxeur – no caso, o oponente é um bunda-mole que não resiste a dois segundos de luta.

Anonymous, na verdade, é um ser(?) vinculado à espécie Desocupadus Caqueticus Durangus, mais precisamente dentro do gênero Sexagenarius Fracassus Artisticus. Não é catalogado como uma criatura em extinção; na verdade, nem catalogado está. Sua crônica incapacidade de atrair fêmeas para um simples bate-papo não permite a propagação dos genes: efeminado, tenta acasalar por meio virtual, sem nenhum sucesso; confuso, usa Viagra como supositório e acha o comprimido “pequeno”.

Em suma, como diria Catalano... um bestalhão – tudo enquanto exerço minha modesta profissão em minha pequena sala refrigerada (sem riscos de corte de luz por inadimplência), com renda e estabilidade; escrevo, converso, brinco, vejo o Fluzão, ouço música, transo bem, beijo bem, como churrascos e leio Hemingway.

Um invejoso porque mulheres lindas e cultas, camaradas de alto nível moral e intelectual me elogiam aqui.

Tenho culpa?

Duas coisas me chamaram a atenção. Nenhuma por importância, mas pelo ridículo.

A enorme fixação redigida que o "remetente" apresentou por meu órgão sexual e minha barriga, demonstrando ser portador de SIVA.* - deixo claro que o ofensivo baitola não me patolou, embora possa ter desejado contemplar minha ereção (ARGH!).

O fato de um sujeito, em 2009, para parecer “descolado” ou “malandro” utilizar a expressão “sacumé” em seu deprimente “texto” fedendo a chorume. Raras vezes vi algo tão cafona, ultrapassado e fora de tom. Merecia um Troféu Abacaxi no Chacrinha. Nem os hippies de barba-suja-de-macarrão sobreviventes de Woodstock aceitariam tamanha breguice. Sinal completo de coma sexual. Decadência.

No fundo, no fundo, estas linhas finais não passam de uma verdadeira boa-ação; trata-se da única chance de Anonymous ser conhecido ou discutido por trezentas pessoas: sendo mencionado em meu blógui.

Pela última vez.

Este é seu trajeto de vida, velório e enterro. Morreu como viveu: sob indiferença e uma ou outra risada.

No mais, Revertere Ad Locum Tuum.

Pá-de-cal.

Gargalhadas. Muitas.

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Trezentos amigos, eu gosto de vocês.

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* SIVA = Síndrome da Viadagem Adquirida.


Paulo-Roberto Andel, 18/05/2009

8 comments:

Vicky MundoAfora said...

Nao acredito que ele voltou a atacar??

Unknown said...

Meu caro, amigo, bom dia.
Muito obrigado por sua crônica, é o seu gênero por excelência, me perdoe a intromissão, mas é onde me espelho e encontro. A sua poesia é superior, mas esbarra na minha dificuldade na leitura. Um grande abraço, na casa nova, pintadinha, telhado zerobala e comemoremos aqueles que não morreram. É tudo mentira. Abração.

Unknown said...

Bom dia mestre tricolor meu bom amigo Paulo forte abraço. Mas o final ali diz tudo com relação ao ancião rsss " pá de cal" E ser repetitivo no meu caso gosto de ler suas histórias baseadas nas lembranças de momentos vividos com verdadeiros amigos.

Paulo-Roberto Andel said...

Amici, obrigado de sempre.

Beijo a todos.

Silêncio em memória dos fracassados falecidos.

Anonymous said...

Rsssssssss!!! Jah tinha comentado por e-mail, mas naum a tinha visto na integra. Em suma: PERFEITO!

Bjs,

Paulo-Roberto Andel said...

Vicky,

O único lugar que esse otário ataca é nos pontos de travestis da orla da Zona Sul.

Ahahahahahahaha!

Beijocaaaaa.

Mariano P. Sousa said...

Compan heiro!
Você me mata de saudade!
me lembrou quando eu vivia lá dentro dos matos, e ficava com meu radinho Nissei ligado na globo do rio e ouvindo Mário Viana dizendo Errrrrrrrou!!
Eo fluzão quebrando tudo.
Abraço!

Raquel said...

Vc acredita que nao tinha te linkado ainda no meu blog e nao era sua seguidora. Que absurdo!!!!
hehehehe
mas agora espero receber suas atualizaçoes e por aqui voltar sempre...que possível.

MUUUUUUU