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Sunday, August 15, 2021

Copacabana Mon Amour 1998

2:25 p.m: no Sindicato do Leme em tarde nublada, alguns nacionais bebem chope pacificamente. Numa das mesas, Bolinha fica encantado com a beleza de Aline. No fundo do bar, em pé, encolhido com sua tulipa à mão, está um vizinho da casa: Zeca Pagodinho. 

4:15 p.m: o bicho pega no clássico de futebol de areia da Figueiredo Magalhães: Juventus e Bairro Peixoto jogam pelo campeonato com casa cheia no calçadão. Júnior, craque consagrado e símbolo do Juventus, acompanha o jogo e ouve piadinhas de torcedores do Bairro, cujas cores remetem ao Fluminense, amor do ex-jogador na juventude. 

6:30 p.m: uma turma conversa na areia perto da rede de vôlei no Othon, quando alguém recorda do frenesi na praia por causa do verão da lata - as pessoas loucas para conseguir o fumo do bom, algumas recorrendo até a olheiros para localizar as latas de ganja boiando no mar do Posto Seis. 

9:15 p.m: Xuru e Cler estão num carro nas imediações da praia com a Souza Lima, quando trocam ideias com Sharon, uma gata travesti do trottoir. A negociação parece que vai dar pé. Cler está confiante no amor de ocasião, a ser executado num muquifo qualquer da região. 

11:30 p.m: numa bela e espaçosa sala de jantar de um prédio garboso da Avenida Atlântica, o uruguaio Molina aprecia a vista da praia de Copacabana, mas sente certa melancolia porque lhe vem à mente a filha desaparecida anos atrás, depois de uma doença súbita e inesperada.

01:15 a.m: a vinte metros do grande apartamento de Molina, Ciano se vira como pode no banco de praça do calçadão. Está  em situação de rua. Não conheceu seu pai e sua mãe morreu quando ele tinha dez anos de idade. É uma vida de extremo sofrimento, que humilha, agride e dói. A madrugada é fria e cruel. Copacabana é um peito que precisa de muito, mas muito leite para resgatar sua enorme contradição entre o luxo e a miséria.

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