Translate

Wednesday, October 24, 2007

O concreto da festa

todos reunidos
todos reunidos
festa da ilusão
solidão

todos estão rindo
debochando e rindo
tudo soa em vão
depreciação

música gritada
corpos seduzidos
inaptidão
desvinculação

copos, tragos, fumos, balas
degeneração

putas, trouxas, broncos, vis
representação

festa da ilusão

decadência em vão

alma em contramão


Paulo-Roberto Andel, 23/10/2007

Velas ao vento

minha vista é caravela
que navega
nas águas claras
do teu olhar

nas turquesas que brilham
mares, ondas
feito fossem
tarde-noite do Leblon

eu suspiro pela bela vista
que namoro em teu olhar

mar de amparo, relicário,
com moldura dos teus louros,
tuas madeixas

eu me perco no mar
e procuro o fim do mundo,
o crepúsculo,
profundo na imagem santa, louca
que leva-me ao caminho
dos teus inesquecíveis lábios


Paulo-Roberto Andel, 23/10/2007

Rap Reto

tudo no manto reto, completo,
exceto o incerto,
para intervir discreto,
repleto no ato secreto,
retrato do fato incorreto e concreto;
portanto, noves fora nada,
tudo perto e deserto.


Paulo-Roberto Andel, 23/10/2007

Friday, October 19, 2007

O taxista

É o sol do meio-dia em plena Rio Branco e eu, homem antigo, daqueles que nem sempre usam o eMule para obter as músicas dos artistas prediletos, volto da tradicional loja de cedês da rua do Rosário.
Discos, mesmo compactos, hoje já se tornam obsoletos; contudo, eu quero o produto, a capa, as fotos, o encarte, tudo me interessa. Bons preços, uns de rock, um de blues, outros de jazz - diferente de tudo, apenas o de hip-hop português, de Portugal mesmo. A loja tem sempre boas ofertas, e ainda fica num endereço categório. Pela direita, terreno que sobrou de velho motel que ali desabou anos atrás, logo acima de um bar onde o Xuru adorava encher o pote, com drinques e drinques. Pela esquerda, Rosário 65, tradicional casa onde as garotas só dizem sim. Volta e meia vejo um amigo por aquelas bandas, cd na sacolinha é só comigo, todos os outros de mãos livres. Dizem que foram comprar pão, cortar o cabelo ou buscar o resultado da loteria. Eu acredito. E rio.
Braço à frente, chamo um táxi. O motorista, atencioso, pára imediatamente. Entro e peço o destino, rua do Senado. Muitos não gostam, acham que o caminho é curto e pode ser mais vantajoso ficar à espera de um apressado executivo que queira pagar sessenta reais por uma corrida até a Barra. Ele, não. É um senhor, vindo do Nordeste, talvez por volta de seus sessenta anos, ouvindo música clássica dentro do carro refrigerado. Eu gosto. Tem algum engano, de toda forma.
Em vez de tomar o caos de congestionamento pela rua da Carioca, o motorista toma iniciativa de seguir em frente, usando Almirante Barroso e imaginando usar Lavradio para chegar à Senado. Moro por ali há alguns anos, e gosto dessa coisa de uma única rua ter diversos nomes. Afinal, Conde de Bonfim, Haddock Lobo, Henrique Valadares, Relação, Chile e Almirante Barroso são seis nomenclaturas para a mesma super-via. Acho. Da Tijuca ao Centro, o que não falta é terra e gente homenageada. Chile é um pedacinho, Relação também. Tudo em nome da democracia.
Esquina de Chile com Lavradio, o sinal fecha. Na direita, IBGE e suas estatísticas. Noroeste, o veterano prédio da Tribuna da Imprensa, sobrado, quase centenário. Silencio, para dar vez ao taxista.
"O senhor sabe daquele prédio ali, da Tribuna? Olha, em 1950, eu era um menino, tinha nem trinta anos, menos até, e vivi uma história naquele lugar. Tinha uma moça, que era jornalista e casada com um policial. Uma vez, ela pegou uma corrida comigo, já que eu passava sempre aqui. Passou a ser minha cliente. Eu a levava até Piedade, Cascadura. Ela sempre me falava da casa, do trabalho, dos ciúmes que o marido sentia, e eu calado. Era mulher bonita, mas eu só espiava de esguelha, nada de me engraçar, nem tinha coragem naquele tempo. Levei a doutora muitas vezes em casa, tarde da noite, acho que ela ficava até o final cuidando das matérias, eram os tempos do Lacerda. Um dia, o policial ficou doente; fiz uma corrida para ela da Lavradio até o Hospital dos Servidores. Chegando lá, ela pediu que eu subisse com ela, para que o marido visse que não tinha nada de mais, e eu era somente o taxista - parece que ele morria de ciúmes do sujeito que levava a patroa todo dia em casa. Subimos, dei boa tarde ao moço, que nem era tão moço. Era, sim, um senhor, que devia ter uns quarenta, cinquenta anos, era velho para ela. Devia ser enciumado mesmo, porque mal balbuciou cumprimento. Terminou a visita, a dona pediu para eu levá-la até Piedade, era bom serviço. Aí é que a coisa entornou: quando chegamos lá, ela pediu para que eu entrasse na casa, bonita, grande, para tomar um café, tudo já de noite. Fiquei cabreiro, mas fui. Entrando, ela cumprimentou as crianças, a babá, pediu para a empregada que nos fizesse sanduíche e chocolate quente. Quando ia começar o lanche, botou toda a turma para dormir. Eu, trêmulo, naquela casa, com aquela mulher bonita, sem saber fazer as coisas direito, eu só sabia lidar com as quengas da Mimosa. Daí que a moça puxou a cadeira para perto de mim, começou a roçar a coxa e, quando vi, estava com a mão dentro da minha camisa e me beijando. Era uma mulher pra lá de bonita e de danada, fiquei amalucado, me levou pela mão para o quarto. Linda e safadinha. Quando fui embora, me deu um beijo na boca que até hoje eu sinto o gosto. Peguei o carro e voltei para Marechal Hermes. Tomei banho, deitei, quase não dormi, só pensava naqueles louros, naquela pele de seda, naqueles seios. No dia seguinte, me chamou de novo para a corrida. O marido, que ia ficar uma semana no hospital, acabou ficando meses - e eu ia para Piedade todo dia. Naqueles tempos, telefone era coisa difícil; um belo dia, a danada me ligou e pediu para não passar perto da Tribuna e nem de Piedade - a empregada, revoltada, foi ao hospital e contou para o corno o que estava acontecendo, sendo que o mesmo estava para ter alta. Quando desliguei, perdi dez quilos: imagina um policial armado atrás de mim. Nem pensei duas vezes: arrumei minha muda de roupa, paguei a despesa do quarto onde morava, deixei algumas coisas no quarto dum amigo e mudei para São Paulo. Fui trabalhar com frete e sumi do Rio, foi a única vez na vida em que deixei essa terra. Me escondi por um ano, deixei o buço crescer, o cabelo, imagine se o hômi vem atrás de mim. A saudade foi grande, mais uns três meses, não aguentei e voltei. Quando cheguei em Marechal, o amigo de volta me deu alguns recados, eu tremendo: quem será que poderia ter ligado? Policial, nenhum. A jornalista, umas três vezes. Retornei a ligação para o jornal. Acabei encontrando-a umas cinco, seis vezes, só para chamego, coisa da boa. O policial estava em casa, aposentado, ela disse que largava ele para ficar comigo. Achei que era loucura demais, mudei de Marechal, ela nunca mais me achou, eu conheci minha esposa e a vida seguiu. Tem cinquenta e sete anos, seu moço, isso foi em 1950, depois da tragédia do Maracanã."
Todo mundo tem suas histórias de amor, uns mais, outros bem mais. Por um instante, lembro das minhas, as distantes e as próximas. Noutro, assusto-me com a idade do taxista, e esse é o engano lá de cima: oitenta e três anos. Eu chutei uns sessenta. Ótima forma, no batente e com lucidez espetacular do contador de boas histórias. Se chegasse lá, aos oitenta, setenta mesmo, daquele jeito, seria feliz. Acho.
Chega a rua do Senado, 213, meu destino. A corrida não dá dez reais. O motorista merecia o dobro, só pela prosa, pela crônica que descreveu sobre o amor safadinho dos tempos de Vargas. Começou corrida às oito, ainda tem tarde e noite toda para trabalhar.
Eu agradeço e me despeço. O carro parte, decidido e sereno rumo à rua do Riachuelo.
Adentro o prédio antigo, de porta verde e alta.
Fico pensando no amor, na alcova, na mulher que não era só minha, tudo coisas que eu já vivi um dia.
O que será do amor do taxista? A bela mulher que hoje pode estar muito morta, mas que está tão viva naquele diálogo.
Lembro de coisas que nem deveria, mas me dão uma baita saudade. Acho.
Paulo-Roberto Andel, 19/10/2007

Thursday, October 18, 2007

A pátria sem chuteiras

Ontem foi dia de seleção de futebol no Maracanã. Fosse nos tempos idos, Nelson Rodrigues diria ser a "pátria de chuteiras", com mais de cem mil torcedores presentes ao estádio.
Não é mais assim, ainda que a festa seja marca registrada em qualquer evento carioca que não seja tiroteio.
Mário Filho esteve abarrotado ontem, com seus oitenta mil torcedores. Reduziram a capacidade de ingresso, pois a geral foi extinta e as cadeiras ocupam mais espaço do que os outrora espremidos torcedores. Viver, espremer.
E a seleção voltou ao Maracanã, sua casa de fato e que não precisa necessariamente ser o "estádio oficial da CBF", como tem sido comentado na mídia. Curioso é que, há menos de um ano, Ricardo Teixeira, o presidente da confederação, disparou que se o Brasil sediasse uma Copa do Mundo, o Maracanã não serviria como sede e deveria ser implodido. Agora, cogita-se da CBF administrar o Maracanã. O que mudou de fato? A incoerência das declarações passadas? A das atuais? Ou ambas? Tudo bem, exigir coerência no futebol é um pouco pesado.
O Maracanã é do futebol mundial. Qualquer ato de privatização ou de cessão do estádio a particulares significará grave agressão à memória do torcedor de futebol. Desimporta se Vasco tem São Januário e o Botafogo, Engenhão. A casa dos gigantes, dos grandes jogos é o Maracanã. E um jogo não pode ser gigante com apenas uma torcida.
Ao que tudo indica, não houve problemas de violência no confronto entre integrantes de torcidas organizadas no jogo de ontem. Proibiram a cerveja vendida, embora meu amigo Catalano tenha informado que a nata VIP no camarote montado pela cervejaria "oficial da seleção" - e que impedia a passagem de torcedores pelo anel de circulação do estádio - esbaldava-se com seu malte n'água. Dizem que proíbe-se a cerveja para minimizar a violência - se isso realmente desse certo, seria preciso estabelecer a Lei Seca por toda a Guanabara.
Favorecimentos à parte, foi bom o fim da ausência dos canarinhos no Maracanã. Sete anos. Um pouco exagerado. Espero que não tenha nenhuma relação com os propósitos antigos do Sr. CBF em botar as arquibancadas abaixo.
Quem ler ou leu as manchetes de hoje dará de cara, ou deu, com um impactante cinco a zero. Contudo, o placar não conta a história do jogo, modorrento que foi em sua grande parte.
Primeiro tempo, uma chatice só. Bela a jogada de Robinho e o ímpeto de Maicon para o gol solitário de Wagner, debaixo das traves vazias. Ele, também, Wagner, quase fez outro gol numa jogada de oportunismo pela esquerda, com a bola batendo no pé da trave direira. Robinho estava incrivelmente errando jogadas, o Gaúcho com um preciosismo que não cabe em sua vocação de craque. Kaká, o de sempre, arranque na direção do gol, objetividade. Um a zero bastou.
Segundo tempo, mais pachorra em vinte e cinco minutos, até que o forte chute do Kaká encontrou o Gaúcho pelo meio do caminho, e saiu o segundo gol. A esquadra equatoriana, limitada e já desgastada, aí se entregou de vez. Kaká fez um golaço, veio o quarto na jogada maravilhosa do Robinho e, despretensiosamente, Kaká de novo fez o quinto com a ajuda penosa do arqueiro equatoriano. Pronto. A seleção correu quinze minutos, jogou como seleção brasileira, aquela dos tempos em que se vencia e jogava bonito, fez quatro gols. É isso que esperamos, e não sufoco contra os colombianos para se conseguir um "bom resultado fora de casa", empatando sem gols.
Para a seleção brasileira, empatar nunca pode ser bom resultado.
O pessoal gostou, foi bacana, está certo. Para mim, entretanto, não tem mais pátria de chuteiras. Foi-se o tempo.
O circo pega fogo mesmo é hoje, com Vasco e Flamengo, jogo que é anunciado com ares de redenção para o vencedor. A verdade, mesmo, é que o derrotado penará nas proximidades da zona de rebaixamento.
Jogo de duas torcidas.
É disso que o Maracanã precisa.
De toda forma, agradeço ao Kaká pelo chutaço o ângulo. E ao Robinho, pela jogada maravilhosa de dois segundos, que nos faz perceber que o futebol brasileiro está vivo. Mesmo que, por vezes, respirando com auxílio de aparelhos.
Paulo-Roberto Andel, 18/10/2007

Tuesday, October 09, 2007

Passatempo de Maracanã

Cheguei ao Maracanã por volta de sete da noite de ontem, ainda bem cedo para o jogo entre Fluminense versus Corinthians, que iria começar lá pelas dez da noite, tal como manda o catecismo televisivo.
Um ritual que tenho mantido há muitos anos, o de chegar cedo.
Gosto de adentrar o Maracanã silencioso, reparar as nuances do estádio; perceber o silêncio absoluto de um lugar onde, poucas horas depois, milhares de torcedores se esgoelam e, findo o jogo e estampado o "boa noite" nos telões, em minutos volta toda a calmaria de antes.
Celebrei um bate-papo com uma simpática senhora, aos pés da rampa do metrô, a rampa da UERJ, tudo minha velha casa, enquanto esperava o amigo Dória. Ela, a senhora, gosta do Thiago Neves. Respeitei. Tive mais cerimônia ainda quando ela comentou que tinha visto o título mundial do Fluminense no Maracanã, ainda garota - feitas as contas, cinquenta e cinco anos atrás. Está perto dos setenta. Aplaudiu o Telê. Viu tudo.
Antes da velhinha, foi divertido ver o carro de transporte de cargas vivas da PM, leia-se cavalos. Vários soldados apoiando pelas pernas um outro, que tentava sem sucesso abrir a porta-rampa para a descida dos bichinhos - que fique bem claro, os cavalos. Há tanto cheiro de desrespeito, corrupção e morte nos arredores da PM, que não deixa de ser interessante os sujeitos em uma ação quase hilária para quem pôde ver.
Prestes a comprar o ingresso, nova piada. Veio o cambista, oferecendo o tíquete a quinze mangos. Dória mandou chamar o chefe, passou-lhe meia dúzia de safanões verbais: o cambista-mor não tinha vendido-lhe o ingresso do jogo de estréia do Engenhão, Fluminense versus Botafogo, por quarenta mangos. O atravessador considerou as palavras justas e, constrangido, cotou o ingresso a dez reais. Justiça social, se é que me entendem.
Adentramos Maracanã.
A eterna rampa, ladeira para caminho de glórias e dissabores, emoções de vida. Um frio cortante. Resolvemos, eu e Dória, dar voltas pelo corredor circular do estádio e manter o aquecimento, enquanto os Sussekinds não chegavam. Uma, duas, várias.
Quando finalmente acessamos as arquibancadas verdes, bem do lado da tribuna, veio-me um sentimento distante, de uns vinte e cinco anos precisamente, provocado pelo vazio do estádio. Era outro Fluminense e Corinthians, era 1982, era o Torneio dos Campeões vencido pelo América. O TC foi disputado antes da Copa do Mundo, e o Flu vivia mergulhado em crise: tinha sido apenas o quinto colocado do certame nacional, eliminado pelo Grêmio que viria a ser campeão do mundo no ano seguinte. E já estava há dois anos sem títulos. Ria você, que é jovem; naqueles tempos, era assim. Enfim, veio o dito Torneio e a pequena torcida Tricolor preparou nas gerais, hoje extintas, a cerimônia de "enterro" do então presidente Silvio Kelly. Naquele dia, fui sozinho, meus amigos não quiseram ir; o ingresso era por demais barato, bebia-se mini-leite CCPL e o velho Geneal estava de pé. Mesmo com um caixão fake, foi a primeira vez que vi algo parecido com um enterro em minha vida, e tive medo. Era um sábado à noite, baixíssimo público e o Corinthians acabou vencendo por um a zero, cujo artilheiro não me lembro. De toda forma, o futebol tem a velocidade horária de Mercúrio: menos de dois anos depois, os mesmos clubes estaria decidindo uma das semifinais do campeonato brasileiro - e o Flu venceria.
A dez minutos do jogo, devem ter chegado umas cinco mil pessoas, mais os dois Sussekinds, fato que espantou a hipótese de eu ver um jogo dos mais vazios de minha história esportiva. Lembro de três. Fluminense vencendo o Americano por uma a zero em 1981, com uns 1.300 pagantes. Fluminense vencendo a Portuguesa de Desportos por dois a um, de virada, gols de Djair, pelo campeonato brasileiro de 1994 - e seiscentos pagantes. Teve também um América e Bangu, isso mesmo, muito vazio, 1982. Desse, não recordo.
O primeiro tempo foi melhor do que o segundo. Fizemos um belo gol com o Pantaneiro e poderíamos ter feito mais, não fossem a desplicência Tricolor e o excelente goleiro corinthiano Felipe - que, aliás, cairia muito bem nas Laranjeiras para a Libertadores. Desplicência. Estamos ainda lutando por uma colocação de ponta no campeonato, e isso é bom. Porém, quando o Corinthians empatou, em mais uma falha do goleiro Fernando, faltou força para reagir. Pontos perdidos, desperdiçados mesmo.
No fim das contas, o desempenho Tricolor e a raça do limitadíssimo Corinthians foram os parâmetros para o empate final em um tento. Renato Gaúcho é um Deus Fluminense, mas entendo que não foi bem nas substituições: quando colocou Gabriel, deveria ter deixado Fabinho - que, rara e incrivelmente, estava bem e com bom poder de desarme. Arouca veio mais para trás e isso tirou o arranque do time, sem contar a ausência de Thiago Neves, provocada única e exclusivamente pela mesquinharia que domina o empresariado do futebol. Perto do fim do jogo, juntos estavam o extenuado Alex, mais Somália, Soares e o repatriado Adriano Magrão - o quarteto não inspirava nem velocidade, nem toque de bola ou criatividade.
Durante o jogo, um torcedor perto de nós gritava a cada bola parada um "É gool! É gool!" de tal forma que parecia um cachorro em latidos profundos, ou mesmo o cantor de uma banda de death metal. Particularmente, acho que isso espantou o segundo gol de Laranjeiras. No mínimo, atrapalhou.
Estar desde já na Libertadores é um grandioso conforto. Contudo, podemos ir mais à frente. Podemos e devemos.
Quando o jogo acabou, eu pensei basicamente em duas coisas.
Uma, o velório do Sílvio Kelly, e tudo o que veio depois daquele sábado à noite vazio no Maracanã, com derrota.
Outra, o Fla-Flu.
O Fla-Flu está por perto, muito perto. Precisamos, como sempre, nos agigantar.
Paulo-Roberto Andel, 04/10/2007

Wednesday, October 03, 2007

A casa em chamas

quando dei por mim
as chamas ardiam
em minha antiga casa
e o fogo alaranjado,
ávido lambia
as paredes em cinza,
enquanto a fumaça
subia aos céus
sem discrição,
na contramão do bem
era incêndio, domingo
mau sinal da nova semana
colocaram fogo na casa
minha antiga casa
enquanto eu chorava
ao longe
no exílio voluntário
e a massa de ar frio
do Maracanã
nem se incomodava
era tarde de domingo
alvinegros choraram
alguém sofreu num velório
e tudo o que eu via
era minha casa
em chamas
ardendo profana,
sofrida mas viva

Paulo-Roberto Andel, 03/10/2007