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Wednesday, August 04, 2021

5:40 da manhã

eu poderia ligar a TV e ver as olimpíadas ou completar meu texto no livro sobre Copacabana. finalizar o da Portuguesa, assim espero logo. mas a verdade é que eu não tou a fim de nada, praticamente nada, exceto ouvir canções no YouTube e respirar bem baixinho aqui para não romper o silêncio das quinze para as seis da manhã. 

eu poderia dizer que estou nervoso, triste, chateado, preocupado, ansioso, esperançoso e muito mais, mas estou é insone mesmo, ouvindo músicas de trinta anos atrás, pensando nas pessoas maravilhosas com quem convivi, em outras palavras, outro Rio, outro Fluminense, outras tantas coisas. tudo é rápido demais. 

eu gostaria de ligar o rádio, mas só tem a Cidade na internet agora. ou de pegar um livro do Ivan Lessa ou do Carlito Azevedo para ler, só que isso destruiria qualquer possibilidade de sono, com a luz em riste. 

em algum lugar de 1989, exatamente à essa hora, eu estava correndo do banho para o ponto do 434 na Figueiredo Magalhães, de modo a chegar às sete da manhã na UERJ - e nem sei porque a pressa, já que nunca tive uma aula por lá começando às sete, exceto com o saudoso professor Moisés - que adorava as garotas e dava aula em ponto falando e escrevendo sozinho, acreditem. nossas amigas eram lindas e a gente ria o tempo todo sem um tostão furado no bolso. hoje só restou o furo. 

em algum lugar entre 2008 e 2018 eu poderia estar suando frio porque precisava pegar um avião para Brasília, São Paulo ou Belo Horizonte, mas odiava fazer isso obrigado com todas as minhas forças. hoje iria tranquilo, mas não é algo que me apeteça. 

em algum lugar do começo ou suposto meio da Pandemia, eu estaria desesperado  porque estava trancado em casa e os dias pareciam pena privativa de liberdade. agora estou só preocupado. 

[ajeitar o tempo todo o carregador do celular para que cumpra sua função

talvez seja o seguinte: sinto saudade de coisas e pessoas que já não existem em meu cotidiano - embora as ame -, com saudade de um bairro que já não existe e, ainda por cima, com a covardia de sonhar aos 53 anos com o tempo dos 23. ou tudo isso só seja o pavor do silêncio lá fora em pleno início de dia sem pregar os olhos. ok, eu cochilei até umas três, mas foi pouco. 

também penso no quanto estamos mal parados: Sarney e Collor eram muito menos piores do que esse bosta que aí está, e isso é incrível. 

seis da manhã, quatro de agosto, bora ligar a TV e saber do museu de grandes novidades. julho já era, gastei doente. as contas estão arrombadas, as pessoas estão distantes demais, o velho boa noite foi trocado por um polegar desenhado. 

justiça seja feita: essa quarta-feira precisa fazer jus a um de nossos maiores medalhistas da história. Mutley, o fantástico assistente de Dick Vigarista. é um injustiçado. 

@pauloandel

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